Andrezza Tavares

10/03/2019 10h26
 
   
 
 
       No período de 02 a 06 de março de 2019 os meios de comunicação veicularam internacionalmente a plural manifestação do carnaval no Brasil e a Escola Estação Primeira de Mangueira ocupou lugar de destaque por transformar a agenda cultural em um frutífero contexto de aprendizagem cidadã aproximando-se de uma criativa sala de aula a céu aberto. 
 
     O enredo “HISTÓRIA PRA NINAR GENTE GRANDE”, campeão absoluto no carnaval carioca, encantou por meio das múltiplas expressões de arte e, mais ainda, por meio do coro orquestrado que conclamou o povo brasileiro a pensar  pela ótica da resistência. O contexto contagiante ativou o estado de consciência crítica do público que demonstrou o poder da aprendizagem significativa e emancipadora. Espontaneamente, a plateia se envolveu com a intencionalidade didática da escola e se uniu ao espetáculo cultural acompanhando de forma atenciosa e emocionada a explosão de reflexões transdisciplinares que ecoavam na avenida. 
 
    O enredo possibilitou o enxergar lúcido sobre aspectos históricos que condicionaram a escravidão do povo brasileiro. Destacou o valor imensurável da igualdade e da liberdade. Nessa direção, inclusive, contribuiu intensamente com a qualidade das reflexões e dos diálogos realizados no importante dia internacional da mulher, o emblemático 08 de março de 2019!!!
 
     Na volta às aulas, após feriado de carnaval, seria de grande valor pedagógico e político  que as equipes escolares retomassem a aula pública realizada pela Estação Primeira de Mangueira. É sociologicamente valioso manter acesa a chama da narrativa carnavalesca baseada nas “páginas ausentes” dos livros didáticos, que denunciam a história oficial como sucessão de versões e de fatos escolhidos e contornados pelas elites hegemônicas. É legítimo desvelar que índios, negros, mulatos, mulheres e pobres não viraram estátua ou monumentos nos territórios, que seus nomes não estão nas provas escolares e que suas versões não estão entre as opções para marcar “x” dentre as questões de múltiplas escolhas.
 
     Muito bom seria que a escola cidadã não abandonasse o mérito do enredo que denuncia que “sem saber quem somos, vamos a toque de gado esperando alguém pra fazer a história no nosso lugar”. 
 
     Portanto, está proposto o convite para que os espaços escolares acolham o conteúdo sensível e digno presente na voz ecoada pelo povo na Sapucaí em 2019 e que também inclua nos diálogos e nos livros o protagonismo da “realeza” da liberdade e da identidade cultural exercida por ZUMBI, DANDARA, LUIZA MAHIN, MARIA FELIPA...  
 
      Cientes de que a nossa história é de luta, teremos orgulho do Brasil quando a prioridade cultural for Suassuna, muito mais do que “DISNEY” e “ROLIÚDE”, permitindo que o humor e a criatividade de João Grilo e Chicó sejam brasilidades valiosas enxergadas em nós. Teremos orgulho do Brasil quando a prioridade for saci do que “BRUXA”,  CANGACEIRO do que “COWBOY”. Essas são algumas das problematizações que a Estação Primeira de Mangueira colocou o povo  brasileiro para pensar e para se engajar em 2019.

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