Ananda Carvalho

28/03/2019 09h36
Caixa de Saxofone
 
Uma estação de metrô. Um homem encostado na parede tocando um saxofone com a caixa do instrumento aos seus pés. Ele toca uma bela música e parece se emocionar ao tocar. Muitas pessoas passam direto por ele, algumas olham com desdém, outras jogam alguma moeda. Até que uma moça para em frente a ele, ele com os olhos fechados para se concentrar na música nem percebe, assim que acaba abre os olhos e vê a moça na sua frente, ela sorri e bate palmas timidamente, ele ri, ela pega uma nota do bolso e se agacha para pôr na caixa, ele sorri agradecido, ela vê o metrô vindo e vai na direção dele para pegá-lo, ambos sorriem e baixam os olhos.
 
Outro dia, o mesmo homem tocando saxofone no mesmo canto da parede, mas agora espiando muitas vezes a escadaria do metrô para quem sabe ver o rosto de uma desconhecida moça. Até que uma hora a moça desce correndo as escadas falando estressada com alguém no telefone, mas para e dá um leve sorriso ao ver homem do saxofone. Ela não vai até ele pois o seu metrô vem logo em seguida. Mas ele dá um sinal de tchau com a mão, ela sorri novamente e faz o mesmo.
 
Mais um dia, o homem do saxofone continua tocando no mesmo lugar da parede da estação. Está mais frio agora, ele a vê descendo as escadas do metrô se tremendo de frio e ela vai indo na sua direção, ele não consegue conter um sorriso e num movimento involuntário ajeita roupa como que para parecer mais apresentável, e quando ela estava chegando perto de onde ele se encontrava, uma mulher no final da estação chama o nome Ana, e a moça olha imediatamente, então a mulher a abraça, aparentemente uma antiga amiga, o metrô chega logo em seguida, a moça que agora tinha nome olha para trás antes de entrar no metrô e faz uma expressão como quem pede desculpas, ele apenas sorri, e faz um gesto de tchau.
 
Então em mais um dia, ele esperava a moça chamada Ana descer as escadas, estava certo que hoje eles conseguiriam trocar algumas palavras. Porém já havia ficado tarde, mais tarde do que ele costumava ficar ali, e desistindo de esperar a desconhecida, guardava o seu saxofone na caixa. Um grupo de quatro adolescentes se aproximou, eles pegam a caixa do saxofone, e deram um sorriso bem diferente, e bem mais malicioso do que aquele que ele esperou pacientemente à noite inteira. Em uma tentativa desesperada de pegar a caixa do saxofone de volta, ele acabou levando um soco no rosto e é empurrado, caindo sentado no chão. O grupo sai e mesmo sabendo que poderia ter sido bem pior, ele sente as lágrimas de raiva brotando dos seus olhos. Então, poucos minutos depois ele sente uma mão em seu ombro e quando levanta o rosto, vê a moça. Tentando sorrir, mas visivelmente fazendo força para não chorar. Ela se senta ao seu lado e ele põe a sua cabeça em seu ombro. Passado algum tempo em silêncio. Ela se põe de pé e oferece a mão a ele, com um largo sorriso no rosto. Ele segura sua mão e se levanta, enquanto vão em direção a escada.
 
Ela olha pra ele e diz: -  Ana...
 
Ele sorri, olha pra ela e diz:  - Eu sei. Carlos...
 

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