Cefas Carvalho

10/04/2019 00h30
 
 
A obsessão brasileira pela "nova política" é uma tragédia nacional
 
Trata-se de um filme que já assistimos diversas vezes. Chega uma eleição e boa parte do eleitorado resolve votar em um candidato "novo", que represente a "nova política" e que vá "acabar com a corrupção da velha política". Pós-Ditadura Militar e seus generais de plantão sem votos, vimos isso em 1989, com Collor e em 2018 com Bolsonaro, passando por outros candidatos, derrotados ou vencedores (embora não se enquadrasse nessa "nova política" Lula e o PT eram vistos por muitos eleitores como uma espécie de "redenção" da velha política, o que, evidentemente não aconteceu).
 
Claro que o eleitor se cansa dos escândalos que pulam nas manchetes e quer ver os políticos empregando bem o dinheiro dos impostos e não engordando contas em paraísos fiscais no exterior. Mas, é necessário entender que a política é uma ciência, uma ocupação, algo estudado há século, não algo que acontece em anos pares para despertar paixões e ódios, como parte do eleitorado brasileiro encara a questão.
 
Pode até existir uma "velha política", Mas, não existe uma "nova política" que elimine a "velha". Trata-se de uma utopia geralmente usada por parte da mídia e dos próprios políticos (geralmente "velhos") com interesses pessoais.
 
Basta lembrar Collor em 1989. Vendido na mídia como "caçador de marajás" e algo "novo", era filho e neto de políticos, de família tradicional e coronelista de Alagoas.
 
E que o que dizer de um presidente eleito como "nova política" e "contra os corruptos que estão aí" que foi deputado federal por 28 anos e que colocou três filhos na política, dando continuidade à cultura de capitanias hereditárias que domina a política brasileira?
 
Essa obsessão brasileira pelo "novo" na política, em vez de optar por projetos, defeituosos, falhos, mas projetos de país de partidos sólidos com quadros experientes, é uma tragédia que mostra a imaturidade da nossa Democracia.
 
Eu falei Democracia? Talvez nem ela sobreviva a tanta "nova política". A esperar.

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