Ananda Carvalho

25/04/2019 15h28
O Ultimo Corte
 
Acordar em um chão duro feito pedra sem saber direito o que aconteceu e por que você esta ali. Que sensação agonizante. Eu não consigo parar de olhar para essas paredes, elas parecem ser a unica coisa que me mantem são. Se é que eu ainda posso chamar o que tenho em minha cabeça de sanidade. Há mais de um ano todos que eu converso dizem a mesma coisa. "Por que você não confesa logo?''. Como confesar algo que eu não fiz. Eu sei que não fiz. Não importa as evidências. Eu não ligo para o que os policiais dizem. Eles não vão me fazer falar que eu matei a mulher que amo. Não vão. Eles falam de filmagens, digitais, testemunhas. De que isso importa comparada a certeza que eu tenho?
 
Apesar que eu não consigo entender, a filmagem mostra claramente eu  esfaqueando muitas vezes a pessoa que eu mais amei na vida. Não vou ficar citando nomes aqui, afinal, quem encontrar essa carta provavelmente sabe os detalhes da minha condenação. Lembro de tão pouco daquela noite. Lembro de tudo  durante o dia. Do ultimo bom dia, do ultimo beijo, porem, quase nada da ultima briga. Apenas da gente na cozinha, gritos, tudo parecia estar girando, um cheiro de bebida no meu halito e no dela, parecia que aquilo não acabava, e estava literalmente me matando. Então, depois de um grande apagão, que no dia seguinte eu imaginei ter sido por conta da bebida, acordo em uma cela apertada, quente e pricipalmente solitária. Nunca havia me sentido tão só. Depois de pergutar tantas vezes para os policias o que havia acontecido , ouvi a versão ridicula dessa história. Alguem queria me incriminar por isso, é a unica explicação. Mas não sei quem faria algo assim. 
 
Admito... Algo dentro de mim ja pensou "e se...", mas eu não consigo acreditar. Não, não,não! Eu não mataria a pessoa que eu mais amo. Porem, não aguento mais essas falsas acusações. Me chame de covarde se quiser, acaba aqui. Ainda me surpreendo o quão facil é conseguir algumas coisas numa cadeia, como uma folha, uma caneta, uma lâmina. Com certeza há um lugar para pessoas injustiçadas e exaustas como eu. Um lugar em que ela me espera. Eu sei que sim.
 
 O motivo dessa carta, ou melhor, desses rabiscos, é quem sabe se fazer entender a verdade. Não tenho mais como aguentar diferentes pessoas me chamando sociopata, dizendo que me iludo com minhas própias mentiras, quando o unico que disse a verdade sou eu. Não sei como acabar esse recado, não vou dar o gosto aos meus carrascos de me ouvirem falando adeus. Então que assim como essa história começou, que uma lâmina a termine.

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).