Andrea Nogueira

27/04/2019 00h15
 
Joana D’arc e outras Joanas
 
Já estamos no século XXI, mas quando mulheres ocupam altos cargos empresariais, políticos ou outro de poder, viram notícia como se fosse inédita. Os jornais divulgam, as redes sociais multiplicam a informação, a sociedade comenta o fato por dias seguidos. A tal notícia, de fato, parece merecer muita atenção.
 
No que pese a existência de muitas mulheres ocupando cargos importantes ao longo dos anos, a sociedade moderna ainda não se acostumou com o fato. Talvez porque o “muitas” ainda não seja o ideal.
 
Como exemplo de mulher jovem que ocupou importante cargo militar, temos a famosa Donzela Francesa Joana D’arc, que lá em meados de 1430, com apenas 17 anos de idade, foi líder de um exército na conhecida Guerra dos Cem Anos.
 
Joana nasceu mergulhada na guerra entre franceses e ingleses. Conta a história que ela era destemida, presunçosa e, para os padrões atuais, uma fanática. Esta jovem senhorita, desprovida de conhecimento militar, conseguiu convencer que seria um importante instrumento para a vitória da França sobre os Ingleses. Assim, liderou bravamente um exército, alcançando importante vitória na Batalha de Orléans.
 
Naquele século e em muitos que o sucederam, não encontramos registro de outras histórias de mulheres militares. O protagonismo de Joana D’arc não foi suficiente para mudar o cenário masculino daquela época. Não à toa, Joana acabou presa pelos ingleses e condenada por heresia, acusada de seguir vozes diabólicas, se vestir como um homem e outras práticas inadmissíveis à época. Ousar ocupar um assento tradicionalmente masculino não foi, portanto, encorajador para tantas outras mulheres. Outrossim, muitas se disfarçaram de homens para combater, até que em 1917 o ministro de guerra da Rússia autorizou o primeiro batalhão feminino. E depois disso, outros países foram se rendendo às lutas feministas por estes espaços.
 
O exemplo de Joana D’arc é apenas para ilustrar que mulheres ocupam posições de destaque ao longo da história, mas a sociedade ainda não se acostumou com essa “ousadia”. E se não se acostumou é porque a frequência desta ocupação ainda é ínfima.
 
O que aconteceu com Joana D’arc, após vitórias emblemáticas em combate, nos conduz a uma reflexão importante sobre o quanto dura, realmente, a credibilidade na competência de uma mulher. Os sucessos liderados por aquela Donzela chacoalhavam a honra dos opositores que se sentiam humilhados, já que derrotados por uma mulher. Não à toa, deram um jeito de justificar suas conquistas militares à prática de bruxaria.
 
Hodiernamente, ainda é possível identificar julgamentos similares, já que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que o feminismo seja questionado, investindo-se no seu descredenciamento como comportamento adequado. Assim foi com Joana e ainda acontece com muitas mulheres.
 
Joana D’arc era uma feminista apesar de não saber disso. Aliás, o termo não é tão antigo, pois só precisou existir para identificar o movimento por igualdade de oportunidades quando este se tornou realmente forte.
 
Cada “Joana” que se reconhece capaz de realizar sonhos, ocupar altos cargos e tomar decisões importantes para toda a sociedade é também uma feminista. Assim, não há nada mais natural numa mulher do que o feminismo. E não será a condenação de uma Joana que desfigurará sua história de conquistas e sua real identidade.
 

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