Andrea Nogueira

11/05/2019 00h30
Liberdade, igualdade e oportunidade
 
Certo dia eu estava com meu filho de nove anos assistindo um documentário sobre os índios do Brasil. Foram muitas informações sobre a cultura daquele povo, sua moradia em ocas, a caça como atividade cotidiana, a língua preservada em sua origem, o modo de se vestir, as músicas, as danças, as obrigações de cada um dentro da tribo. O documentário mostrava algumas diferenças entre eles e nós, “povos civilizados”. Depois de frisar que os índios não usufruíam de energia elétrica, máquina de lavar roupa, fogão, comidas congeladas, casas com encanação para água e outros apetrechos tão comuns do nosso dia a dia, meu filho olhou-me atentamente perguntando por que eles ainda viviam daquele jeito. A pergunta estava imbuída numa mistura de pena e indignação. 
A indignação era maior porque o pequeno percebia que os índios gostariam de permanecer do jeito que estavam.
 
Numa sociedade como a nossa é muito difícil compreender um modo de vida diferente do da maioria. No Brasil, a maioria é de “homens brancos” e os indígenas correm o risco de serem subjugados e obrigados a adotar o que aqueles escolhem como melhor opção.  Talvez os indígenas pensem o mesmo de nós e tenham até pena da vida que levamos, mas sabem que são minoria e não contam com o nosso poder bélico. E de fato, estas duas características já são suficientes para nos fazer refletir sobre o limite dos nossos direitos.
 
Pessoas acostumadas a reconhecer o melhor nos outros independentemente de sua condição social, econômica e cultural não encontram muita dificuldade em compreender as minorias e o seu modo de vida.
 
Uma criança com apenas nove anos de idade se inquieta com a situação, claro. Até por que seu cotidiano é com pessoas que jogam e conversam com outras através do celular. Mas o tempo e os ensinamentos sobre a liberdade individual poderá amadurecê-lo, fazendo-o compreender que existem pessoas diferentes, e que não precisamos, nem podemos, igualar todos para conseguimos conviver.
O convívio com pessoas diferentes é uma questão de capacidade e esta capacidade é desenvolvida a partir de uma escolha. Escolhemos ser capazes de compreender as diferenças ou simplesmente escolhemos destruir aqueles que pensam ou agem diversamente.
 
A busca pela igualdade se exprime exatamente na necessidade de dar a todos a oportunidade de escolher seu modo de viver. Ela é manifestada em diversos grupos de pessoas que desejam passar a mensagem de paz onde todos possam seguir seu próprio caminho, ou seja, aceitá-los como sujeitos de sua própria história, capazes de conduzir e negociar suas mudanças. Assim, a igualdade não equipara diretamente as pessoas, equipara as oportunidades. 
 
Outros povos não devem decidir qual a cultura apropriada para os indígenas, muito menos como, e se, irão manter suas tradições. Enquanto crianças, estamos em processo de formação do nosso entendimento, mas sendo adultos esperamos entender que a vida alheia é mesmo do outro. Esperamos entender que o limite da liberdade individual é a liberdade do outro.

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