Andrea Nogueira

25/05/2019 01h11
 
Credos
 
Crer em Deus, nos homens, na verdade, nas mentiras. Crer no que é bom e no que é ruim, crer que existe o bom e o ruim. Crer no pensamento, no poder da ação, na intuição.
 
Crer na política, nas organizações da sociedade, no Estado. Crer numa ideologia política, numa religião. Crer no outro e crer em si. Credo.
 
Crer significa ter fé, acreditar em algo, ter crenças.
 
Muito utilizado no sentido religioso, o credo pode ser um instrumento de identidade cristã. Mas falando de um modo geral, cada pessoa tem suas próprias crenças que lhe forjam a identidade social e cultural. Isso nos conduz a uma reflexão sobre a real capacidade de escolher. Afinal, acreditamos fazendo uma escolha ou sendo direcionado para isso?
 
Uma coisa é certa: as pessoas acreditam apenas no que conhecem, já que o desconhecido está tão distante dos seus pensamentos e ações que não lhe cabe notório significado. Uma situação, uma história ou uma pessoa pode fazer parte do rol de conhecidos e, consequentemente, fará parte daquilo que forma suas crenças, norteando verdadeiramente suas ações e reações.
 
Crer traz conforto e tranquilidade. Instintivamente, cada pessoa procura acreditar no que já é mais aconchegante para sua vida.
 
No turbilhão de informações em que a sociedade está mergulhada, importa admitir que a VERDADE tem relevância cada vez mais secundária, cedendo o lugar de primazia à uma sensação de bem estar. Assim, as pessoas passaram a propagar fatos ou ideias que lhes acomodam num sentimento cheio de tranquilidade. Sentir-se bem com o que acredita é a regra número um do comportamento humano hodierno. Qualquer incômodo provocado por uma ideia nova afasta a vontade de acreditar nela.
 
Importa destacar, porém, que o incômodo não revela uma mentira, apenas direciona a pessoa a vasculhar as características do que construiu seu credo ao longo dos anos. Dessa forma, sentir-se incomodado é uma excelente oportunidade de reavaliar as crenças e não apenas reafirmá-las.
 
A multiplicação desenfreada de informações carregadas de emoções compromete a capacidade de autorreflexão sobre problemáticas sociais e políticas e faz com que percamos o nexo com a autoria.
 
Em tempos de redes sociais, a repetição de ideias é praticamente incontrolável já que a internet potencializou a capacidade de acesso à informação. Mas essas ideias correm mergulhadas numa correnteza de emoções capaz de provocar a perda da necessidade do vinculo com o real.
 
Ao acessar várias informações na internet, as pessoas terminam acreditando naquilo que diz respeito ao seu universo afetivo. Por exemplo, se é algo ruim sobre alguém que ela não gosta, julga a notícia como verdadeira, replicando-a imediatamente.
 
As notícias nas redes sociais simplesmente ganharam status jornalístico sem o menor fundamento factual, revelando que o critério de julgamento do VERDADEIRO ou FALSO é puramente individual.
 
Tantas emoções e tanto imediatismo sugere que a maioria das pessoas não está fazendo uma escolha no que acreditar. Estão sendo direcionadas. O que faz lembrar uma frase de Frida Khalo: “Não quero que pense como eu, só quero que pense”. Deixar o incômodo perdurar antes de replicar uma notícia é salutar para quem prima pelo seu direito de escolha.
 
Crer nisso tudo é uma opção, mesmo que não desperte imediato conforto.

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