Andrezza Tavares

09/06/2019 12h18
 Ensaio filosófico sobre a loucura
 
 
     Por  Andrezza Tavares e 
             Joaquim Artur Pereira
 
     No final da Idade Média e início da Idade Moderna, a nau dos loucos (stultifera navis, em latim) permeava o imaginário da sociedade europeia. Tratava-se de um barco que navegava o rio Reno recolhendo os marginalizados da sociedade (loucos, prostitutas, bêbados, desocupados), história que foi retratada em diversos poemas, livros e obras de arte da época.
 
       O filósofo francês Michael Foucault, em sua primeira grande obra, História da Loucura, deu visibilidade à nau dos loucos e sua “insana carga”, formada de errantes escorçados para além dos muros da cidade. Esses excluídos sociais eram, geralmente, confiados a grupos de peregrinos e comerciantes que os levavam a bordo de suas embarcações. Assim, esses “indesejáveis” podiam “sumir” das cidades. 
 
       Além da nau dos loucos, na Idade Média e na Renascença, existiam, na maioria das grandes cidades, detenções reservadas aos insanos que, como a nau dos loucos, era uma forma de excluir esses sujeitos fora do “padrão de normalidade”. Foucault considerava essa exclusão como uma medida geral de expurgo, uma forma de se livrar da presença desses “indesejáveis”.
 
      Razão e desrazão conviviam lado a lado até a modernidade, porém, no século XVII, a imagem do louco é incorporada à desordem de comportamento, um “desvio da normalidade”. Considerado o fundador da filosofia moderna, o filósofo René Descartes, considerava que “onde há loucura não há razão”, buscando definir o que seria loucura em sua época.
 
       Ainda no século XVII, com a criação do Hospital Geral, nasce o fenômeno chamado por Foucault de “Grande internação”. No princípio esses hospitais não eram locais destinados ao tratamento e à cura de pacientes, mas sim ao silenciamento da loucura e “higienização social”, pois só em uma fase mais tardia da modernidade a loucura passou a ser tratada como doença, e os loucos, medicados. 
 
       Durante a história, alguns pensadores conseguiram enxergar aspectos positivos no que consideravam loucura. Erasmo de Roterdã, em sua obra Elogio da Loucura, acreditava que a loucura, com frequência, era porta voz de uma “verdade” que era intuitiva. Já para Nietzsche, assim como para os antigos gregos, a genialidade e a loucura sempre estiveram muito próximas, uma vez que, para eles, a loucura prepara o caminho para uma nova ideia que rompe com o estabelecido. 
 
        É preciso compreender a loucura como uma construção social que varia de acordo com a época e o lugar. No século XIX a loucura se tornou um fato científico e médico, e os manicômios surgiram como locais onde tal patologia seria tratada, medicada e “curada”. Atualmente, pode-se entender que a medicação dada aos considerados loucos é uma forma de controle social, de se livrar ou silenciar os “indesejáveis”. Você já parou para pensar sobre isso? 
 

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