Andrea Nogueira

27/07/2019 00h37
 
Homens e Mulheres choram
 
As mulheres, diferentemente dos homens não cresceram sob a doutrina “mulher de verdade não chora”. O choro é tão natural na vida da mulher que não há discriminação quanto a isso. Essa compreensão por parte da sociedade reveste-se da absoluta certeza plantada na consciência de todos quanto à fragilidade feminina.
 
Ao longo dos anos, todos foram ensinados por livros, imagens, cores, profissões direcionadas, ambientes personalizados ou outras circunstâncias, que as mulheres são frágeis e os homens são fortes. De tal modo, a fraqueza ou a fortaleza não estão diretamente relacionadas com a composição física de ambos, mas trata-se de uma sugestiva recomendação de poder e comando.
 
A história tratou de confundir os conceitos de força e de resistência, transformando a existência da mulher forte numa exceção. Como se não fosse completamente natural a fortaleza da mulher como é natural a do homem, surgiram os estereótipos de mulheres maravilhas como se a força não fosse uma característica comum a todos os seres humanos.
 
Em tempos hodiernos, com o acesso a livros, a cultura e aos ambientes de participação mista de gêneros, a fragilidade feminina é que passou a tornar-se a lenda.
 
No passado, a sociedade não dava as mesmas oportunidades aos homens e às mulheres, por isso era difícil contra argumentar a fragilidade permanente imposta ao universo feminino. Mas hoje tudo está diferente. Alguns preconceitos estão sendo reavaliados porquanto bailamos num momento de profunda transformação social. A vida moderna já aponta um ser humano forte quando ele tem capacidades que não concentram apenas características de força muscular. Aliás, essa característica passou a ser reavaliada diante do direito alcançado pelas mulheres de trabalharem seu porte físico com maior liberdade. Tanto desabrochar por parte das mulheres pode estar relacionado à incrível capacidade de chorar. E mergulhados neste novo mundo, vários homens já reconhecem o peso desnecessário colocado sob seus ombros. Eles choram.
 
Enquanto crianças, a inocência permite ao ser humano vivenciar a capacidade de chorar em toda a sua plenitude. Segundo a bióloga Mariana Araguaia, chorar faz bem à saúde e “crianças que são educadas a reprimir o choro têm muito mais probabilidade de desenvolverem problemas de inibição emocional no futuro”.
 
Chorar lava a alma, exprime o desabafo da dor física ou psicológica, faz reconhecer que somos fortes e frágeis ao mesmo tempo, humaniza, traz posterior conforto e nos faz refletir. Chorar de alegria, de dor, de amor, de rir. O choro faz o organismo liberar importantes substâncias num processo natural de defesa e autoconhecimento.
 
Se a sociedade continuar a doutrinar o universo masculino para reprimir o choro, corremos o risco de testemunharmos, nos próximos anos, uma verdadeira mudança na classificação dos sexos, invertendo-a a favor das mulheres. Mas não é o que queremos. É preciso que homens e mulheres desfrutem da igualdade de oportunidades, vida, direitos e escolhas. Por isso, choremos todos.
 

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