Nicole Tinôco

12/12/2017 12h10
Olá , boa tarde,
 
Sou Nicole mãe de um menino de 10 anos e 7 meses, cujo nome prometi a mim e a ele evitar proferir nesta coluna por questões de exposição. Ele achou uma bobagem: “Mas mamãe, todo jornalista tem que se expor. Isso não faz sentido”. Enfim, é decisão minha, prossigamos. O fato é que meu filho, primeiro personagem descrito aqui hoje é branco, loiro, classe média portanto , teoricamente, não pertence a nenhuma minoria.  E não pertence mesmo, ainda não. Para chegar ao ponto do assunto “clímax” desta texto de hoje preciso voltar um pouco ao passado, mais exatamente meados de 2006 quando me descobri grávida.
 
Era início da gravidez,  com apenas  3 semanas já possuía a confirmação do meu “novo estado”. Se não me falha a memória antes dos 4 meses descobri o sexo do bebê, algo bem moderno pra época: filmagem em DVD, a qual se levava cópia para casa, achei o máximo. Eu tinha 20 anos, recebi a notícia sozinha. Éramos eu,  o computador e  uma amiga que trabalhava na clinica à época. Mas não lamentem por mim, eu e a solidão  sempre fomos muito próximas.. Inclusive pretendia falar sobre isso hoje : solidão/ solitude, mas fica talvez para uma próxima terça. Voltando a “cena proposta” estava com o DVD na mão e a  boa nova de que era  um “Boy/garoto/homem” que viria. Além do objeto estava também comigo uma sensação incontrolável de alegria que me tomava o peito.
 
 Viibrei sozinha, como um gol do flamengo em final de campeonato carioca, mas fiz isso escondida para que ninguém visse. Logo em seguida  me odiei por isso. Como poderia eu , que sempre me considerei empoderada (quando nem se usava essa expressão), logo eu, comemorar um resultado de ultrassonografia por uma questão de gênero e o que é pior : gênero Masculino! No mesmo instante me acalmei, os hormônios ainda não tinham tomado conta de mim e em um rompante de discernimento distribui a notícia aos familiares e amigos  em um tom forçadamente “blasé” justificando que ficaria feliz e amaria a criança independente da questão do gênero. Mentiras & Verdades. Quanto ao amor, verdade pura e simples, no tocante  à Felicidade faltei um pouco com a verdade , uma vez que vibrei pelo fato do “Meu Guri” ser um menino.
 
 Hoje entendo a razão pela qual comemorei, ainda que ninguém tenha visto. Não, Nicole de 20 Anos, não se culpe minha “amiga” mais jovem, você não foi machista. Você ficou feliz pois na sua doce inocência imaginava que não teria seu bebê/menino no futuro  que se submeter-se  à vil e cruel cultura a qual nós mulheres estamos diariamente expostas. Esse alívio minha jovem, você sentiu por acreditar que seu rebento estaria livre de tantos sofrimentos , situações discriminatórias , dolorosas as  quais as mulheres que você conheceu ao longo de sua vida  foram submetidas. Você  nunca foi machista meu bem. A  verdade é que nascia ali, junto com aquela descoberta de “sexo” também uma mãe. Mãe que ama, cuida e principalmente se preocupa. Entretanto minha querida Nicole dos 20, tenho algumas informações daqui do “futuro” que podem acelerar mais ainda seu coraçãozinho ansioso. Seu baby não está a salvo. Infelizmente não.
 
Nosso filho é magrinho, saudável, doce e gentil. Como planejamos desde sempre. Toca aqui que esse plano deu muito certo. Confesso que ele está precocemente entrando na pré- adolescência e já dá  indícios de que será meio “estressadinho” e em algumas situações tem sido grosseiro. Essa coisa de ser precoce/grosseiro (a) conhecemos bem não é mesmo!? Fácil  não vai ser mas lidaremos bem com essa pseudo-rebeldia. O  nosso problema não é exatamente esse. Nosso filho é super sincero, gosto muito da verdade, assim como nós e tem um “gênio” difícil, é preciso cuidar para que ele não seja mau-educado. Já estou trabalhando nisso. Mas o que estou aqui sem ter coragem de te contar é que nosso filho, nosso menino, nosso pequeno grande homem, ele sofre. Sim, nosso Guri tem Dores desde muito pequeno. Ele enfrenta uma coisa que aí em 2006 não se falava ,  sofre o que chamamos aqui em 2017 de Bullying.
 
 Desde  muito baby  (4, 5 anos..) vem sendo recriminado , motivo de risos e chacotas por ser o que sonhamos que ele fosse. Olha que tamanho absurdo! Ele é  diferente dos homens tradicionais , respeita  mulheres, as admira,, não gosta de violência , nem tampouco falar de proferir “palavras feias”. Parece sem lógica não é minha jovem? . Mas nosso filho foi enquadrado em uma minoria em virtude de sua sexualidade antes mesmo sem que ela possa ter sido definida. Ele ainda que pareça “um velho” tem apenas  10 anos. Não tem idade para que esse assunto seja colocado em pauta.  Mas desde muito “cotoco”  nosso pequeno teve que ser bem forte. Na família , na escola de bairro que estudou, na escola grande de renome que ele estuda agora, em  muitos, tantos lugares, ele foi alvo de bullying.
 
Não sou a atriz  Taís Araujo mas sei que muito  embora em menor proporção críticas virão pós texto de hoje. Falarão que exponho nosso filho, nossa família , que preciso preservar questões íntimas...  E, não  sem dor ou até mesmo agressividade que me é típica,    estou pronta para elas, as críticas. Porém, não  espere de mim completo equilíbrio ao tratar deste  assunto. Como bem explicou a psicóloga dele, eu sou humana. Sinto , sofro , tenho raivas , iras.. Não preciso lidar com todos os assuntos da melhor forma, eu sou obrigada apenas a Lidar. Como eu puder, mas preciso lidar.
 
Voltemos a “ele”, o galego razão de nossas vidas. Que mesmo Branco/Jovem/Classe Média não está livre de dores e julgamentos os quais  nem eu , nem você , nem ninguém pode a ele proteger integralmente.  São Dores da vida. Que ele precisa saber lidar , com nossa ajuda mas precisa.  Julgaram seu modo desengonçado de andar , o fato dele gostar de cruzar as pernas, seu jeitinho “nerd” , complicado e  prolixo  de se comunicar e até a forma com qual o pobre utiliza as mãos. Sim, as suas mãos, seu modo de gesticular. Tudo  isso o fizeram ser alvo de bullying desde pequenino , casos que ele até “ontem” ele  contava a quem quisesse ouvir com muita clareza e calma. Não mais. Agora ele se calou.
 
Tenho muito medo do “silencio do inocentes”, sempre que me calo é porque não estou bem. Ou cansada ou triste demais. No caso dele o que me acalma é que até hoje nós sempre conseguimos romper essa “Lei do silêncio” . Temos uma relação tão íntima que com a “mamãe “ ele sempre se abre. Às vezes com calma , outras me chingando. Algumas no “grito”, ouras no “choro”, ou até mesmo no riso. Independente do humor ou estado de espírito  ele sempre me conta. Até hoje , tudo. Somos confidentes e conhecemos as dores  um do outro (tenho evitado que ele conheça as minhas mas não é tão  fácil, o garroto  é muito perspicaz ). Ele em sua tamanha sabedoria sabe que a mãe dele às vezes é grosseira , que carrega muitas  dores, mas tem ciência que em qualquer situação pode contar e se abrir comigo. Quero terminar esse contato com você “do passado” pra fechar essa viagem (no texto e no tempo) te contando  o que ele pediu este ano em 2017 como presente de Natal. Preciso que você entenda que ele é tido como mimado e é  famoso por gostar de objetos  de valor. . Fruto da preocupação por não estarmos morando juntos por escolha dele com e com minha  anuência (ele mora com nosso pai) , e nesse contexto o nosso filho, nosso “menino mimado”  virou para mim ontem e após analisar por mais  de uma hora o que iria me pedir solta : - Mamãe,  ia te pedir algo baratinho, porque você tá tão “pobrinha”.  Mas  já tenho tantas coisas que meu avô me dá. Sabe o que eu quero ? Que você seja muitoooooo feliz e que nunca mais na vida eu veja você chorar”. Pode se orgulhar Nicole de 20 anos estamos criando um príncipe. E meu contato com você termina pro aqui.
 
Ao  meu filho, caros leitores, eu respondi que não posso prometer a parte do “choro”, uma vez que sou uma manteiga derretida e ao escrever esse texto de hoje por exemplo, chorei em diversos momentos. Mas quanto a ser feliz eu assegurei a ele que desde o dia que escolhi seu nome, sou feliz e completa. Tenho ele em minha vida (diariamente ou esporadicamente) e sou extremamente grata a Deus por isso.
 
Por  fim, venho acrescentar que essa não é apenas uma carta fictícia ao meu “Eu do passado” , nem tampouco apenas mais uma carta de amor. É um relato fiel e fidedigno de uma mãe que sofre pelo filho , que sente Dores , que sente saudade mas que sempre busca o lado “Poliana” da vida . Quero que com minha experiência eu possa inspirar você , leitor, amigo , conhecido, a dar um beijo no seu filho hoje. , À você que é filho, que possa  abraçar seu pai. Estreitem suas relações, busquem a intimidade. Conheçam as dores e as alegrias de sua família.  Um dia seremos sozinhos , cada um seguirá seu caminho. E este dia não há garantias, pode ser aos “18 anos” , amanhã, ou daqui a frações de segundos. Aproveitem o presente que é deitar e acordar ao lado dos que você ama! Convido vocês a falar , sorrir e se emocionar junto comigo aqui na PN TV, todas as quintas as 11h da manhã (passo detalhes nas redes sociais ). Os temas são esses que já trato na coluna , e outros que trarei para somar , sempre na única linguagem universal que conheço : a voz do coração !
 
Espero vocês comigo.
 
Fiquem com Deus.
 
Até quinta.

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).