Daniel Costa

30/08/2018 09h48
Capitão Styvenson: O novo pode ser muito pior
 
O cientista político e professor de Harvard, Steven Levitsky, autor do livro "Como as democracias morrem", disse em entrevista à Folha de São Paulo que quando os cidadãos estão convencidos de que os políticos de todos os partidos são corruptos, eles se tornam mais propensos a votar em um outsider que prometa tirá-los do buraco. Pode ser um populista como Donald Trump ou Jair Bolsonaro, ou como Hugo Chávez ou Rafael Correa. 
 
Aqui pelos lados da terra de Poti, parece que esse desencanto com os políticos tradicionais também repercute na cabeça do eleitorado, levando a crer que essa é uma das razões pelas quais o capitão Styvenson permanece à frente na corrida para ocupar a cadeira do senado federal. O capitão é um apolítico. Nunca pertenceu a qualquer partido e teve o seu nome exposto ao grande público por meio da propaganda obtida com o sucesso da blitz da lei seca. 
 
O problema é que esses predicados não lhe conferem nenhuma aptidão para o exercício do cargo de senador. O trabalho na blitz é insuficiente para fazer de Styvenson alguém capaz de representar o Estado no poder legislativo. O simpático palhaço Tiririca, por exemplo, eleito deputado com mais de um milhão de votos em 2014, subiu pela primeira vez na tribuna da Câmara quando foi anunciar a sua saída, deixando explicitado o nada que pode ser a atuação de alguém que cai de paraquedas no parlamento, ainda que esse alguém esteja coalhado de boas intenções. 
 
O que se quer dizer, é que não vivemos um bom momento para brincarmos de roleta russa com cinco balas no tambor. Ou vamos fazer do senado federal uma espécie de jardim de infância da política? Elegemos o capitão e se ele não produzir, não colocar o barco para andar, aí vamos dizer: "tudo bem, já estava uma bagunça mesmo".
 
O nó, amigo leitor, é que estamos à beira do precipício. A bagunça pode virar caos. O novo pode ser uma tragédia. E é bem provável que venha a ser mesmo, principalmente quando essa novidade parte do nada para lugar nenhum. Qual o grande trabalho que o capitão já fez? Palestras para estudantes em escolas públicas? Prender uma dúzia de ébrios? Afinal, quais são, concretamente, os seus projetos para ajudar na solução dos graves problemas que castigam o Rio Grande do Norte?  Como ele vai se mobilizar para realizá-los? Ora bolas, o discurso populista de vender compromissos não deveria enganar mais ninguém
 
Precisamos urgentemente de pessoas versadas no métier político, de gente com propostas bem estruturadas, que conheça, de antemão, a dimensão das correntezas dos mares do Rio Grande do Norte e de Brasília. Não se está a dizer que não é preciso procurar pelas novas caras, ou que devamos nos conformar com os políticos provenientes das castas tradicionais, filhos, netos e bisnetos dos velhos coronéis. É urgente a renovação dos quadros. Mas isso deve acontecer entre as pessoas que fazem da política uma razão de viver. O voto no simpático herói não é uma saída. Não precisamos de mais decepções no poder.

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