Daniel Costa

05/10/2018 09h49
O pequeno Hitler dos trópicos
 
 
Foi assim que o Le Figaro, um dos principais jornais conservadores da França, qualificou Jair Bolsonaro ao expor a ameaça que ele representa à demo-cracia brasileira. 
 
Pelas declarações do candidato, essa é uma verdade difícil de ser supe-rada. Daí que a única saída encontrada pelos seus defensores é a de partir para aquilo que na psicologia se chama de projeção, um mecanismo de defesa em que o sujeito projeta os seus vícios e defeitos no outro. Em termos políticos, isso significa uma tentativa de incutir na cabeça do eleitorado a ideia de que o triunfo de Fernando Haddad também significaria um risco ao regime democráti-co. 
 
Os adeptos de Bolsonaro, nesse sentido, não refutam a sua fraseologia extremista. Eles jogam com a "tese" de que é melhor o pequeno Hitler do que uma ditadura petista. Seja como for, o problema desse tipo de argumento é que quando ele é colocado diante da realidade fática, a sua força rapidamente desce o ralo. Afinal, como uma vez disse o político norte-americano Daniel Patrick Moynihan, "qualquer um tem direito à própria opinião, mas não aos próprios fatos". 
 
Veja-se que apesar de todo o movimento para impedir a candidatura de Lula à Presidência da República, inclusive em contrariedade à decisão da ONU, o PT se manteve jogando dentro das regras democráticas, substituindo o seu natural concorrente por Haddad, sem deslegitimar o processo eleitoral. 
 
Também as críticas ao judiciário, feitas pelo partido, jamais desemboca-ram no descumprimento de decisões. Elas vêm sendo contestadas através dos instrumentos jurídicos contidos na legislação. E mesmo o ex-presidente Luiz Inácio se submeteu à prisão, sem qualquer instigação pública ao confronto.
 
Não é possível esquecer, além disso, que durante os anos dourados dos governos petistas não existiram maquinações no sentido de se modificar a Constituição para guinadas autoritárias, ainda que, à época, a popularidade do presidente fosse avassaladora. Por que agora então Haddad, um político da es-querda moderada, que governou São Paulo sem mãos de ferro, agiria de maneira diferente? 
Algum ingênuo poderia insistir dizendo que o apoio do Partido dos Tra-balhadores ao governo venezuelano seria prova desse viés autoritário. Nesse caso, apesar das válidas críticas que se possa fazer à vinculação da legenda a uma ditadura, sem entrar no mérito das causas que levaram Maduro a impor uma autocracia, é preciso entender que o PT adota como estratégia, em termos de política externa, uma linha conciliadora para, dentre outras coisas, manter o país na proeminência do bloco econômico da America Latina. Algo na linha da parceria estabelecida com o governo cubano, também utilizada pela oposição para insinuar uma guinada extremista, ao menos até o momento em que os EUA, durante a gestão de Obama, iniciou o degelo com a ilha em busca de mercado.  
 
Eu sei, a verdade dos fatos incomoda e tem uma teimosia enfurecedora  que nada pode demover, a não ser mentiras. Aos militantes do pequeno Hitler dos trópicos, assim, só resta a jogada da projeção, já que quando o assunto é democracia, venhamos e convenhamos, ele parece não ter nada a dizer. 
 

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