Andrea Nogueira

24/08/2019 01h13
 
O poder da capelania
 
 
Capela, capelão, capelania. Como assim?
 
Em ambientes hostis ou de concentração de pessoas com aparente ou notória necessidade de aconselhamento, surgiu uma forma de assistencialismo que evoluiu do costume para uma atividade institucional protegida por Lei – a CAPELANIA.
 
Não se trata de alguma novidade, pois é possível encontrar registros desse tipo de serviço sendo executado há centenas de anos.
 
Em tempos de guerra do século XVII, por exemplo, já haviam tendas nos acampamentos dos exércitos onde ficava um sacerdote para ofícios religiosos e de aconselhamento. A tenda era chamada de capela e o religioso chamado capelão. O costume foi se perpetuando mesmo em tempos de paz até chegar noutras instituições como hospitais, cemitérios, prisões e escolas. Desde o ano 1988, a Constituição Federal do Brasil assegura o direito a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva (art. 5º, VII, CF).
 
No âmbito prisional, há quem defenda a capelania como um dos principais instrumentos de recuperação do apenado. E no que pese o processo histórico pelo qual se desenvolveu o sistema penitenciário brasileiro, suas repercussões na atualidade têm despertado interesse crescente entre especialistas das mais diversas áreas do conhecimento. Na literatura científica não há indícios de estudos mais aprofundados voltados para a questão. Mesmo assim, é possível nos depararmos com relatos pessoais demonstrando que estar bem espiritualmente ajuda as pessoas a moderar os sentimentos dolorosos que acompanham a doença, a ansiedade e o isolamento. 
 
No Rio Grande do Norte, mais de 10 mil pessoas estão encarceradas e o Brasil ainda permanece classificado como um dos países com maior número absoluto de presos. Em algum momento, aqueles que cometeram crimes voltarão ao convívio social e por isso precisam passar por procedimentos que viabilizem mudanças na sua forma de pensar e de agir.
 
São muitos os instrumentos de ressocialização: trabalho, qualificação profissional, ensino básico e a mencionada capelania. Dentre todos estes citados, apenas a assistência religiosa é completamente gratuita. Custo zero para o Estado à base de um custo de vida dos doadores com resultados satisfatórios para a sociedade que espera pela transformação real daqueles que estão com liberdade restrita devido ao cumprimento de pena decorrente do cometimento de um crime.
 
Segundo a CAFEB (Capelania Federal do Brasil) “a capelania não é uma atividade restrita aos homens, tendo em vista que a sociedade exige um posicionamento da mulher na busca de igualdade em ações de cidadania”. Assim, celebra-se mais um exercício da isonomia entre homens e mulheres, oportunizando a todos ser o que desejarem, pois escolhas feitas a partir do conhecimento e da oportunidade são verdadeiros instrumentos de equalização social.
 
Por longos anos, permaneceu exercida apenas por homens, mas a capelania feminina já é uma realidade, alavancando um trabalho tão importante apesar de pouco conhecido.
 

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).