Cefas Carvalho

04/12/2019 00h28
 
Dennys Guilherme não vai conquistar o Mundo!
 
 
Um dos nove jovens assassinados (e este é o termo) pela PM de São Paulo na operação, digamos, em um baile funk na favela de Paraísópolis se chamava Dennys Guilherme.
 
Tornou-se conhecido e causou comoção depois de morto quando descobriram nos perfis de Facebook e Instagram dele uma postagem com a marcação de que estava na Praça da República na qual o jovem escreveu como legenda de sua foto: "Vou ser um dos favelados que vai conquistar o Mundo. Vou ser para minha mãe o motivo de tanto orgulho".
 
Menor de idade. Cursando faculdade. Sem passagem pela polícia. Sem ficha criminal. Estudioso e determinado a mudar seu destino, a ser "alguém" como se diz, contra todas as fatalidades da vida.
 
Só não contava com a PM de São Paulo invadindo sem razão e de forma descontrolada um baile funk.
 
Funk que, por sinal, também é música de diversão de jovens de elite, de filhinhos de papai que ganham carro de presente quando entram na universidade e de moças de famílias finas que nas festas dançam igual a Anitta e Ludmila. Festas, que por sinal, são regadas a drogas ilícitas. Mas, isto é tema para um outro texto, voltemos ao Dennys.
 
Teve seu sonho, sua ambição de conquistar o Mundo, de dar orgulho á mãe interrompido por asfixiamento, pancada ou pisoteamento, por estar no lugar errado na hora errada, ou seja, por estar em um baile funk, em Paraisópolis. Por ser de periferia. Por ser pobre. Por ser preto.
 
Periférico, pobre e preto em um Estado onde o governador anunciou ao tomar posse que sua polícia iria "atirar para matar". Em quem? Nos engravatados na Paulista e nas moçoilas alegres das boates da Augusta é que não.
 
Periférico, pobre e preto em um país que há séculos odeia periféricos, pretos e pobres. Um país que mantém um racismo velado e presente, cotidiano e cheio de nuances. 
 
Nuances sociais, claro. A polícia militar via de regra não trabalha com nuances. Vide a menina Agatha, Cláudia, Amarildo, meninos chacinados, baleados, agredidos. Sem nenhuma razão a não ser uma: serem pretos, pobres, periféricos. 
 
Triste país que não purga seu tempo de escravidão, não enfrenta os fantasmas de sua Ditadura Militar e que escolhe um projeto fascista para os Governos federal e de Estados.
 
Triste país que impediu Dennys de conquistar o Mundo e de dar orgulho para a mãe.

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