Ana Carolina Monte Procópio

23/12/2019 01h19
 
 
TEMPO DO ADVENTO
 
 
 
Estando eles ali, completaram-se os dias dela. 
E deu à luz seu filho primogênito,
e, envolvendo-o em faixas, 
reclinou-o num presépio
porque não havia lugar pra eles na hospedaria.
 
EVANGELHO SEGUNDO SÃO LUCAS, cap.2, versículos 6 e 7
 
 
 É tempo do Advento. Em breve vai-se comemorar mais uma vez o nascimento do Deus de amor, Jesus Cristo. 
 
Entre tantas atividades deste período do ano como festas, compras, almoços, bebidas e as famosas confraternizações, sobra algum lugar para a mensagem do homem-Deus tão celebrado?
 
O filho de Deus nasceu na pobreza, fora do local a que pertenciam seus pais, em uma manjedoura - local de abrigo para animais - porque não havia lugar para eles em nenhuma hospedaria em Belém em razão do recenseamento a que a população havia sido obrigada a comparecer naquele momento histórico. Quando nasceu Jesus, Maria e José estavam fora do seu país, não encontrando qualquer apoio ou solidariedade no foro estrangeiro. Após o nascimento do menino-Deus, tiveram os pais que fugir com a criança diante da perseguição do rei Herodes que queria, a todo custo, matá-la. Foram ao Egito e lá viveram, durante dois anos, na condição de refugiados, como se chamam hoje os que não podem viver em seu país por razões diversas. Os dois primeiros anos da vida de Jesus mostram a realidade de uma família pobre, em fuga e em busca de viver em segurança e ter um ambiente para criar o filho.
 
O nascimento de Jesus fala, inicialmente, da falta de acolhimento, de hospitalidade. A seu tempo, José e Maria não foram recebidos e acolhidos. Será que seriam hoje? 
 
Um olhar para o nosso tempo e nossa sociedade, infelizmente, apontam para a resposta negativa a essa pergunta. Ou acolheríamos um casal de migrantes pobres, com a mulher grávida, prestes a dar à luz, em nossas casas? Hoje, novamente, Jesus teria nascido entre animais ou em algum outro lugar em idêntico desamparo. 
 
Outro sentido que se extrai do nascimento de Jesus é a denúncia da injustiça social: o Filho de Deus não teve um lugar adequado para nascer. É claro que Deus poderia ter escolhido qualquer outro cenário e circunstância para o nascimento do Seu filho, mas decidiu que Ele viria ao mundo da forma como foi. É certo que essa forma chama a atenção para o desamparo e vulnerabilidade dos mais pobres do seu tempo - e até hoje. A primeira lição que se tem, portanto, é a da humildade. Tema que Jesus, em sua vida pública, retoma e expressa no Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos Céus!”. No mesmo discurso, diz Ele: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados!”.
 
Cristo, em suas pregações, deixou, por fim, um mandamento definitivo: que amássemos a Deus sobre todas as coisas e uns aos outros como a nós mesmos. Sua vida foi amar, acolher, não julgar, estar aberto, curar, ensinar, incluir. Tal viver deve nos servir de guia para o real sentido da comemoração do Seu nascimento.
 
O verdadeiro propósito do Natal, pois, não é o consumismo ao qual nos rendemos para presentear os que nos são caros; esse costume estressante e cansativo não guarda nenhuma relação com o nascimento de Cristo - melhor seria estarmos presentes para e com os nossos seres amados. Tampouco está o espírito do Natal na fruição das fartas ceias que se preparam nessa data, principalmente se olharmos para as circunstâncias em que se deu o nascimento de Jesus. 
 
O verdadeiro Natal acontece internamente, quando permitimos que o Deus de amor e o amor de Deus renasçam e estejam em nós. Viver o Natal é abraçar a partilha, o acolhimento. Expandir o nosso mundo, abrir nosso coração, acolher o outro (que não é outro, senão parte de nós próprios), celebrar a vida com alegria e espírito de comunhão - esse é o sentido do evento que vai se celebrar. 
 
Como disse meu filho de doze anos, “na época do Natal deveria ser legalmente obrigatório as pessoas explodirem de alegria.” Penso que ele entendeu o sentido.   
 
FELIZ NATAL! 
 

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