Cefas Carvalho

05/02/2020 01h08
 
Como o (des)governo Bolsonaro se tornou cabo eleitoral de Petra Costa no Oscar
 
Há um ditado que diz que o ódio é como um bumerangue. Costuma voltar para quem o lançou, como o artefato esportivo australiano. A analogia me veio à mente após a leitura atenta da repercussão que teve o ataque canalha e imoral do (des)governo Bolsonaro à cineasta Petra Costa, que concorrer ao Oscar de Documentário por "Democracia em Vertigem".  
 
Para quem não está acompanhando o caso com atenção: A Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República) através da sua conta oficial nas redes sociais criticou declarações da cineasta Petra Costa e a chamou de “militante anti-Brasil”, afirmando que ela “está difamando a imagem do país no exterior”.
 
As reações foram imediatas. Primeiro porque a Secretaria de Comunicação não pode, pela Constituição opinar sobre um projeto artístico, muito menos criticar uma artista por dar sua opinião sobre qualquer que seja o tema. Segundo, por que o (des)governo não apenas sentiu o golpe como passou fatura do mal estar que tem com a repercussão da indicação ao Oscar, prêmio máximo do cinema, do documentário que mostra como se deu o golpe que tirou Dilma Rousseff do poder.
 
Aí nesta terça, o cineasta de "Bacurau",  Kléber Mendonça Filho no Twitter sobre  "A espetacular campanha de divulgação do Governo Bolsonaro para  #TheEdgeofDemocracy, de Petra Costa, continua nas últimas 48 hrs de votação do Oscar. Votação ainda aberta", se referindo ao fato de quem ainda há tempos para os eleitores da Academia votarem em seus preferidos. E que Petra ganhar as manchetes dos principais jornais do mundo - como aconteceu com o The Guardian, que fez ampla matéria sobre o tema - só ajuda o documentário dela a obter votos no Oscar.
 
Trocando em miúdos: Bolsonaro está é ajudando a carreira do filme rumo ao Oscar, que, por sinal nem é favorito. O aclamado "For Sama" e "American factory", na verdade o são, Mas, achincalhar institucionalmente uma cineasta por não concordar com a visão do filme dela acaba sendo uma prova cabal do que Petra tenta denunciar do documentário. E a fortalece rumo ao Oscar e, mais ainda, rumo à narrativa que houve um golpe parlamentar-jurírico-midiático e que o Brasil hoje vive uma espécie de regime totalitário. Regimes totalitários, aliás, odeiam artistas. E cinema. E opiniões divergentes. 
 

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