Cefas Carvalho

26/02/2020 01h37
 
Quanta-feira de Cinzas com fantasma de fechamento do Congresso
 
 
Quarta-feira de cinzas é, em definição, o primeiro dia da Quaresma no calendário Cristão ocidental. Cinzas que os Cristãos Católicos recebem neste dia e que são um símbolo para a reflexão, damudança de vida, fragilidade da vida humana etc. Na prática no Brasil, é o dia de se recuperar dos excessos do Carnaval.
 
Também é o título de um belo e longo poema do inglês T. S. Eliot, que até pensei em comentar neste espaço. Mas, em um país ainda fraturado e cheio de reviravoltas, a poesia deu lugar à necessidade de me deter sobre o tema do momento: o vídeo divulgado pelo presidente Jair Bolsonaro sobre protesto a ser realizado dia 15 de março em apoio ao próprio Bolsonaro e... pedindo o fechamento do STF e do Congresso Nacional.
 
Escrevi ontem nas minhas redes sociais que querer ou apoiar fechamento do Congresso, significa que a pessoa não quer poder legislativo (que fiscaliza o Executivo). Na prática, quer uma Ditadura (militar, claro) por parte deste Executivo. Fascismo, mesmo. 
 
Então, temos agora um divisor bem delimitado: Continuar apoiando Bolsonaro incondicionalmente significa que também quer uma Ditadura. 
 
Qual seria o próximo passo de um Governo (Ditadura, então) sem Congresso para fiscalizar e fazer leis? Proibiir partidos que não sejam de agrado do presidente? Prender e torturas pessoas que o critiquem?
 
É estranho perceber que parte da população apoia ou tolera uma possível Ditadura Militar. Serão essas as tais pessoas que em caso de ditadura nos entregariam para sermos torturados? Tempos estranhos.
 
Também estranho será se ministros do STF e presidentes de Câmara e Senado não se posicionarem sobre isso. Que, inclusive é Crime de Responsabilidade previsto na Constituição e passível de impeachment.
 
Sabemos todos que o bolsonarismo não está nem aí para a Constituição (que ele na posse jurou respeitar). Mas, ela existe, ou pelo menos esperamos que sim. E fecho o texto com trecho no Canto 1 do poema de Eliot citado no primeiro parágrafo (em tradução de Ivan Junqueira):
 
Por tudo o que foi feito e que refeito não será
E que a sentença por demais não pese sobre nós

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