Andrea Nogueira

28/03/2020 00h01
 
Violência e Pandemia
 
O trabalho de combate à violência é perene. Com relação à violência doméstica e familiar, deve-se manter a guarda e a atenção redobrada diariamente, especialmente em situações de confinamento ou isolamento social.
 
Não à toa, a violência doméstica é um crime muito popular. Este crime está presente em muitos lares e sua existência resistente é fruto de cuidados da própria sociedade. Filhos, tios, maridos, irmãs, irmãos, amigos ainda insistem em tratar uma situação de violência doméstica como algo a esconder, deixando para a vítima o peso da sobrevivência dentro de uma realidade disfarçada.
 
Para não mencionar apenas a sociedade civil, importa destacar o papel de órgãos públicos cujos servidores são especialmente empossados para proteger os indivíduos. Importa destacar o papel da polícia, formada por homens e mulheres gestados numa sociedade majoritariamente machista. Ainda é precária a atuação policial em determinadas cidades ou regiões. E muitas vezes a precariedade está enraizada no descontentamento da própria polícia face à da Lei Maria da Penha, por considerá-la um exagero.
 
O mundo passa por um momento desafiador durante o combate ao corona vírus. As instituições, os órgãos públicos e a própria sociedade que combate a violência doméstica e familiar estão, neste mesmo momento, com um desafio ímpar. Afinal, a ordem é isolar-se socialmente. Mas é dentro das paredes do lar que este tipo de violência ocorre.
 
O isolamento social coloca as mulheres que sofrem violência em situação de total vulnerabilidade. Hoje, mais do que nunca, essas mulheres precisam da intervenção dos seus familiares mais próximos. Essas mulheres precisam de defesa. Precisam de filhos, tios, pais, primos e irmãos encorajados a fazer um verdadeiro enfrentamento da realidade.
O feminismo nasceu desse processo encorajado de enfrentamento. Nasceu do "olho no olho", encararando o problema de frente. Mulheres e homens que decidiram dispensar  atitudes nominadas pacificadoras quando, na verdade, apenas encobriam a sujeira causada pela violência.
 
O processo de enfrentamento começa no reconhecimento da relevância danosa dos comportamentos violentos dentro dos lares.
 
Em tempo de combate ao corona vírus muitos morrem por ausência de saúde, mas outras morrem por serem mulheres que convivem com aqueles que lhes subjulgam, ofendem, ou que tem ciúme excessivo. Mulheres morrem por serem mulheres, pois se fossem homens jamais seriam violentados, dia após dia, até a morte, por suas companheiras.
 
Em meio a todo esse isolamento social, a violência doméstica está dentro de uma panela de pressão. Oremos? Não. Enfrentemos!
 

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