Daniel Costa

12/05/2020 12h23
 
PERIGO NA ESQUINA
 
 
Uma questão pouco explorada na imprensa foi a ida do presidente da república, junto com alguns empresários, ao Supremo Tribunal Federal. As escassas análises a respeito do assunto procuraram ver o tema sob a perspectiva dos efeitos da pandemia no sistema econômico. Para a maioria dos analistas, a ação de Bolsonaro foi considerada como uma forma de pressionar os ministros da Corte para que não venham impor obstáculos às medidas do executivo relacionadas ao afrouxamento da quarentena.
 
Essa parece ser, porém, uma avaliação incompleta. Afinal de contas, se a intenção do presidente se restringiu a tal ponto, porque cargas d’água os homens de negócio não desembarcaram sozinhos no gabinete do ministro Dias Toffoli? Qual a necessidade da presença do presidente da república para tratar de um tema sobre o qual sua posição já era conhecida?
 
Muito além de avalizar os apelos dos empresários, e firmar território quanto à questão do coronavírus e da bancarrota econômica, a visita de Bolsonaro foi entabulada com a intenção de afrontar o STF; mostrar que ele não está só. E que não apenas uma importante ala dos militares o apóia, mas que também estão ao seu lado alguns comerciantes de marca maior. “Há perigo na esquina”, diria o capitão dos tolos, se conhecesse Elis Regina e Belchior.
 
Não por outra razão, a tal visita aconteceu depois que alguns dos ministros do Supremo destravaram o andamento de procedimentos contrários aos interesses do clã Bolsonaro. Ele sabe que para dobrar o legislativo basta comprar o chamado centrão com a distribuição de cargos e de contratos. E que o STF, apesar de suas fragilidades, é a única instituição que tem evidenciado dispor de força suficiente para defenestrá-lo do sonho de subverter a ordem democrática.
 
A verdade sem roupa é que caso o Supremo entenda por bem colocar os pés no freio para engavetar as acusações que envolvem o presidente et caterva, restará praticamente livre o caminho para que ele asfixie os suspiros de democracia que ainda vigoram por esses lados.
 
Nesse caso, o último fio de esperança ficará por conta do povo brasileiro, que apesar de historicamente sempre ter-se mostrado inerte às ações autoritárias, nunca viveu tanto tempo sob a batuta da democracia e nem tampouco se viu acossado por um governo super-radical, que a olhos vistos trabalha na formação de uma tropa paramilitar nos moldes da Sturmabteilung-SA nazista, fazendo crer que poderá ir bem mais longe do que os golpistas de outrora.
 

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