Daniel Costa

22/06/2020 14h55
 
Desejo dos militares
 
 
O governo federal alcançou níveis estratosféricos de ineficiência. A incompetência de Bolsonaro para gerir a coisa pública é de uma luminosidade tal, que mesmo os mais fiéis dos seus seguidores não conseguem esconder o desconforto quando nomes como os de Fábio Faria e Mario Frias aparecem no noticiário. Esse momento de fragilidade traz à tona não somente a questão do papel dos membros das forças armadas no funcionamento do executivo, já que eles estão enfronhados na administração central até a ponta do quepe, mas também o caminho que a turma da caserna pretende seguir a partir de agora, quando as coisas parecem estar perdendo o rumo de vez. 
 
Muitos analistas veem os militares com certa condescendência, como se eles fossem expertises em administração e em política, aptos a ocupar as cadeiras do governo, tanto para emprestar racionalidade às políticas públicas a serem implementadas, quanto para servirem de contrabalanço às sandices presidenciais. Talvez essa visão aureolar seja decorrente do largo tempo em que os membros das forças armadas estiveram a conduzir o poder central, quando publicizavam as coisas boas e varriam para as portas dos cemitérios tudo que de ruim acontecia. Seja como for, o certo é que a atual realidade dos fatos não permite interpretações idealistas. Definitivamente, eles não são garantidores de bons governos. 
 
Os fardados estiveram presentes na reunião ministerial de 22 de abril. Em silêncio, observaram os ataques desferidos aos membros do Supremo e ouviram a ministra Damares aconselhar a prisão de governadores e de prefeitos. Eles acompanharam calados Bolsonaro escorraçar Sérgio Moro para blindar investigações. E também contribuíram para o caos instalado no Ministério da Saúde, já que à cabeceira da pasta se encontra atualmente o general Eduardo Pazuello, que até agora teve como principal marco de gestão embaralhar a divulgação dos dados do Coronavírus. 
 
Tudo isso tem um significado muito evidente. Eles estão com Bolsonaro e vestem a sua camisa porque, além de acreditarem na forma como o governo tem sido conduzido, desejam continuar ocupando as hostes do poder central. Está claro feito água de fonte que eles, assim como o capitão-mor, são admiradores do discurso que alimenta o combate ideológico, nos mesmos mol-des daquele que serviu de diretriz aos governos pós-golpe de 64. Não por outra razão, o que se tem de concreto é a presença do exército nos cargos do alto escalão, existindo, inclusive, o risco de ver-se surgir um movimento similar ao que aconteceu na Venezuela, durante o governo Chávez, quando a administração foi massivamente tomada por castrenses, não somente nas elevadas esferas do executivo, mas também nos meandros da burocracia estatal. 
 
 Os membros das forças armadas compactuam com as ideias do presidente da república e pretendem continuar na proa do executivo. Qualquer solução ao caminhão desgovernado chamado Bolsonaro, portanto, terá que assegurar não apenas a permanência “do braço forte e da mão amiga” na antessala da presidência do país, mas também a continuação da cartilha ideológica que tem sido propalada. Esse parece ser o desejo dos militares.
 

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