Wellington Duarte

22/08/2020 10h15
 
O Diabo na Terra do Sol potiguar
 
 
Se o Diabo tivesse descido no aeroporto de Mossoró com a faixa presidencial, certamente teríamos visto as mesmas lideranças políticas que ontem estavam bajulando o presidente que fez o que se espera dele: provocou aglomeração, mentiu e chafurdou.
 
Não se trata, entretanto, de uma característica da segunda maior cidade do Rio Grande do Norte, que carrega a maldição de ter uma família mandando e desmandando desde Dix-Sept Rosado foi eleito prefeito em 31 de março de 1948, portanto há 72 anos. A arte de bajular é própria das elites norte riograndense e tem um alvo: o poder.
O Rio Grande do Norte, desde que o senhor Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, foi nomeado para ser o chefe de governo provisório, depois do golpe que proclamou a república, em 15 de novembro de 1889, e que “governou” por apenas 19 dias, tem sido um espaço geográfico em que a política se define por quem está no poder e como quem está no poder serve a quem.
 
Pedro Velho seria eleito governador, em 28 de fevereiro de 1892, depois de 4 anos de chafurdo político, e instalou o que até hoje é uma característica da nossa política: o poder oligárquico. Sua família governou o estado, direta ou indiretamente, por 22 anos. E nesse período a costura do sistema que hoje infecta a sociedade potiguar foi sendo montado, com o anteparo do estado, que se tornou propriedade das elites e seus bajuladores. Ergueu-se um sistema quase perfeito, em que o governador, ao nomear os prefeitos (chamados intendentes), distribuiria benesses econômicas e foi isso que permitiu que o “reinado” do poderoso coronel do Seridó, José Bernardo de Medeiros, chamado de “bispo do Seridó” construísse “sua” pequena elite.
 
Marcado por traições, como a de Joaquim Ferreira Chaves, que se bandeou para o lado da elite do Seridó e permitiu a instalação de uma oligarquia que se apoderou do Estado e o governou, de forma mais forte ou mais fraca, até a década de 70 e com as mesmas características, bastando ver o comportamento política de uma das maiores lideranças do RN, Aluízio Alves, um verdadeiro camaleão político, que reinventou o sistema político e que, por isso, tudo que for de canalhice política é permissível na política do RN.
Bolsonaro foi bajulado por estas lideranças, e isso é um ritual tradicional. Fábio Faria, o bonitão das candongas, é uma das expressões desse “político tradicional”, que bajula quem alimenta o seu poder local. Ele teceu loas a Lula, abraçou Dilma, defendeu Temer e agora puxa o saco de Bolsonaro. Já os Rosado bajulam Bolsonaro menos por ideologia e mais por acesso a recursos que sirvam para a manutenção do seu poder político. 
 
O bajulador de ocasião e o bajulador por necessidade política se juntam e formam um caldo pútrido que enganam, dissimulam e se apoderam do espaço público como sendo seu. Basta ver a posição de Carlos Eduardo Alves que durante anos foi considerado progressista, agora apoia Bolsonaro; a fúria de um Rogério Marinho, que tinha o afago de Wilma de Faria e ao ser preterido à prefeitura de Natal, transformou-se nesse monstrengo reacionário; o prefeito Álvaro Dias, um “coronelete” de Caicó, alçado à prefeitura de Natal, que agora cópia, de forma mais branda, o bolsonarismo.
 
Portanto, não devemos nos assombrar com os acontecimentos de Mossoró, e sim compreender a essência do que aconteceu e, dessa forma, buscar mudar isso.
Tersus sursum putredine! (limpem a podridão!)
 

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