Eliade Pimentel

24/09/2020 11h28
 
 
Ansiedade: é difícil, mas não impossível mantê-la sob controle 
 
 
Conversando com colegas de trabalho, percebi há algum tempo que somos todos ansiosos. Cada um a seu modo, e com seu nível de (des)controle. Encontrar pessoas com esse diagnóstico é muito mais fácil do que se imagina. Se conversarmos com um ansioso ou ansiosa aqui, é fato que antes mesmo de chegarmos a outra esquina teremos encontrado várias pessoas, nesse meio de caminho, com problema semelhante. 
 
Porém, mesmo que tenhamos ouvido falar muito mais desse assunto agora na atualidade, afirmar que a ansiedade é um problema da contemporaneidade é um equívoco. Quem não se recorda de quando passávamos mal, na infância, antes da apresentação de um trabalho escolar, ou da realização de uma prova ou até mesmo uma coisa boa como um passeio? 
 
Sim, de uma maneira ou de outra, somos acometidos dessa sensação estranha, que nos faz pensar na janta sem ter ao menos almoçado. Em linhas gerais, ansiedade é sofrer por antecipação. É se preocupar com algo que ainda está por vir. Certo, mas devemos sim pensar no futuro. Devemos nos planejar, para que tenhamos mais controle sobre a nossa existência no plano terreno, que é o único que de certa forma temos a prerrogativa de gerir. 
 
Nem sempre é possível se planejar, ou pior, nem sempre temos paciência para aguardar o porvir. Aí surgem os sintomas físicos da ansiedade, inicialmente em forma de angústia, que é uma sensação de aperto no peito, associada a uma tremenda agonia, inquietação, suores frios, engasgos, tosses, mijadeiros etc. No Nordeste, chamamos de aperreio, noutros cantos do país é aflição. 
 
Cada pessoa sofre ao seu modo. O importante é reconhecer que tem o problema. Esse reconhecimento pode advir pelo autoconhecimento, ou com ajuda profissional. Gosto muito da psicoterapia. Eu fiz análise com uma psicóloga maravilhosa, que me ajudou muito. Mas antes mesmo de frequentar seu consultório, eu havia sido diagnosticada com o problema autoimune e o médico reumatologista falou da somatização, da carga emocional que comprometia minha saúde. 
 
Ele me falou assim, sem menos: “ria da cara dos problemas, gargalhe”. Isso eu com pouco mais de 30 anos, que até então sofria horrores com ansiedade e estava com os olhos esbugalhados, inchados e doloridos, ouvindo o “doutor” ali na minha frente dizendo para eu desanuviar. Para eu relaxar porque eu não ia mudar o mundo. 
 
O grande desafio é aprender a dizer isso ao corpo, que sofre as consequências dessa agonia. Quando eu trabalhava na Tribuna do Norte, amanhecia para não viver às segundas-feiras, quando eu conciliava duas funções, e às sextas-feiras, quando a reportagem fechava as matérias especiais. Era um aperreio pensar nas laudas e mais laudas de textos que eu tinha que escrever, e muitas vezes a apuração sequer havia sido concluída. 
 
Mudei-me de cidade, voltei a Natal, e iniciei tratamento com uma reumatologista que me deu várias dicas preciosas para não somatizar e adoecer, pirar o cabeção como costumamos dizer de brincadeira. Fazer terapia, praticar atividade física que combinasse com meu jeito de ser (foi quando eu descobri a dança), mudar o foco da rotina e cuidar mais da alimentação. 
 
Na terapia, a psicóloga me deu ajudou a livrar da famosa “culpa cristã” e então me tornei mais atrativa e atraente de uma maneira geral, porque eu não me olho no espelho vendo uma Eliade cheia de problemas nessa luta que é sobreviver. Eu aprendi a enxergar uma Eliade que tem muito ainda a aprender, a viver, a descobrir, a repassar para as pessoas, seja para minha filha, meus amigos ou minha família.  
 
Entre as mil e uma coisas que fiz, e ainda faço de diferente, ingressei no IFRN/Cidade Alta e me formei Guia de Turismo. Tive a oportunidade de fazer novos amigos, conviver com jovens, me reafirmar enquanto adulta, profissional e mulher que gosta de amar e de viver. E sobre os problemas, eu sei que não posso fugir deles, mas procuro dar solução ao irremediável (por exemplo, batalho com todas as minhas forças para obter grana para a sobrevivência). 
 
E principalmente, eu me toquei que o dia tem 24 horas e existe vida após as 12 badaladas do relógio. O que eu não consigo resolver hoje, amanhã eu vou à luta para resolver. A frase “tomorrow is another day” tornou-se célebre na voz da heroína Scarlet O’hara, interpretada pela bela Vivien Leigh no filme “E o vento levou...”. É isso. 
 
Respire funde e tente afastar seus fantasmas. Estabeleça seu foco, anote palavras-chaves num caderninho e não se importe com a opinião de mais ninguém. Pois somente você sabe onde seu sapato aperta e somente a você cabe a missão de descalçá-lo. 
 
 
 

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