Cefas Carvalho

14/10/2020 00h26
 
 
Brasil, o ex-país do futebol. E ex-país do futuro
 
 
O Brasil já foi o país do futebol. Há tempos. E não se trata aqui de ressonar a eterna nostalgia masculina por um mundo que se foi. Trata-se de um fato, em todos os aspectos, social, cultural, esportivo, operacional e midiático.
 
Escrevo isso com base em evidências. Rabiscando minhas ideias e bebendo uma cerveja em Grilo Lanches tendo um forró das antigas como trilha sonora, chega um trio que pede uma cerveja e também para Grilo colocar na Rede Brasil pois a seleção brasileira estava jogando pelas eliminatórias da Copa.
 
Fosse há dez, quinze, vinte anos, o Brasil estaria parado para assistir a seleção nas eliminatórias, com a Globo batendo recordes de audiência e Galvão Bueno vociferando seu patriotismo. Outros tempos. Hoje, a gente mal se lembra que tem jogo da seleção, mesmo quem curte futebol, como é o meu caso.
 
Não é por menos. O futebol brasileiro há tempos entrou em uma vibe estranha. Encaretou, ficou mais tedioso, conservador. Uma seleção com maioria de jogadores que não conhecemos, que foram para a Europa com 17, 18 anos. Com jogadores eem carisma.
 
Afinal, quem o capitão atual da seleção? Thiago Silva, que já mostrou que não tem altura emocionou para a função? Miranda, um ilustre quase desconhecido? Daniel Alves com seus quase 40 anos e quase ex-jogador acomodado no São Paulo? Marquinhos, que jamais vimos a não ser no PSG? Neymar e suas polêmicas e escândalos?
Sim, por bem e por mal, já tivemos seleções com Dunga, Sócrates, Ricardo Gomes, Edinho, Leão, Carlos Alberto, como capitães. Era outra realidade, eu sei. Mas, contra fatos não se discute.
 
Mas, esqueçamos a nostalgia macho-branco-classe média. O Brasil não é mais o país do futebol há tempos, a seleção não atrai mais os torcedores (Copa do Mundo atrai pela festa, não pelo futebol) e se éramos o país do futebol, também éramos o país do futuro, outra utopia que se foi. Hoje os esportes nacionais são outros: Evangélicos com teoria da prosperidade, assassinato de LGBTQIs, policia militar truculenta, genocídio da população negra periférica, enfim. Esportes de guerra e de violência que seduzem mais parte da população que os eventos esportivos de sempre,
 
Repetindo: Não somos mais o país do futebol, nem do futuro. Não temos mais nem um nem outro.
 
Em tempo: O Brasil ganhou de 4x2 do Peru, em Lima, pelas Eliminatórias da Copa. Sem pompa nem glória. Com três gols de Neymar. Nem os três caras que pediram para colocar no jogo comemoraram ou vibraram com a vitória. 
 
 

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