Valério Mesquita

30/11/2020 10h48
 
O COMPADRIO DO CAFÉ
 
 
Refletir sobre as pessoas e as circunstâncias da vida parece ser o propósito da turma que se reúne, de segunda à sábado, no café do Natal Shopping. São amigos de diferentes categorias com energia para conversar e criar alegorias. Todos com senso crítico principalmente quando o assunto deriva para a política. Aqui e acolá algum tema vira polêmica, nela destacando-se o gênio impulsivo do debatedor Meroveu Pacheco Dantas, com seu aceso e agudo modo de encarar as opiniões contraditórias. O grupo conquistou a notoriedade e já se incorporou a paisagem multifária daquele pedaço de lojas e seus passantes. É o nosso Café Nice, sem a música e a canção, mas, com o sentimento e a memória gravando a história e as estórias da cidade. Todos simples, lineares, com temperamentos profusos, discutindo fatos comuns a todos, com manha, crueza, generosidade, sem poupar palavras e nem ferir o código próprio da ética.
 
O nosso “senadinho” tem regimento interno fundado na oralidade como mandam os bons costumes. O respeito está implícito e explícito em cada um. O café servido para degustação é o expresso de duas formas: o “machochô”, preto, forte, sem leite e o “boiola”, misturado com leite. Gilvan Carvalho se destaca mais do que os outros, como “pagador de promessas” no guichê da confraria. Ponto de conversação como esse vira banco de dados, cartório de informações, porto seguro de partidas e chegadas, estação de artes e artifícios, onde o lado solar de cada personagem avulta e se inter-relaciona através das tiradas espirituosas, das anedotas, das frases de efeito e com defeito, só para divertir e matar o tédio. Não negamos que a frequência virou vício. Vício bom, construtivo, pecado venial.
 
Enganam-se os que imaginam que são horas perdidas. Esse tempo perdulário com cafezinho gratuito e tudo o mais só se encontra nas casas do congresso brasileiro. Aqui não existe mensalão nem ninguém chamado José Sarney. A marca comum de todos é a humanidade, acima de qualquer controvérsia.
 
A hora regimental das conversas vai das 15 às 18. E pode se iniciar com qualquer número presente. Trata-se de uma sociedade de inspiração universal, que vive suas utopias mas com os pés no chão. No figurino das confraria Atheneu, da Delicia, do Cirne, do Minos, guardadas as proporções de espaço e a pompa dos antigos circunstantes. Não há desejo, absolutamente, de mudar o mundo. Mas a convicção de que o mundo nos muda, no melhor entendimento de Otto Lara Resende. Aqui declino os “parlamentares” que se nutrem nos goles da amizade, alguns deles já partiram, deixando saudade em todos nós: Meroveu Pacheco Dantas, Antônio Pimenta, Gilvan Carvalho, Ivan Meira Lima, Luiz Lopes, Caboré, Sidnez Galvão, Augusto Macedo, Tarcísio Diógenes, Cícero Messias, Luiz Célio, Osman Cabral, Joaquim Úrsula, Silvan Azevedo, Afrânio Amorim, Luis Carlos (saquinho), Tadeu Arruda, Tadeu Oliveira, Malufinho, Assis Araújo (besouro), Wellington Leiros, professor Ferreira, Kerginaldo Barbalho, Cel. Queiroz, Paulo Gurgel, Chico Cobra, Alcides Gomes, Fernando Melo, Antonio Filgueira, Agnelo Alves, Jorge Cunha e tantos outros que vêm e que passam todos os dias, os mesmos dias.
 
 
 

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