Liliana Borges

05/12/2020 00h15
 
A BAIXA, Praça do Município, Praça do Comércio…
 
 
A Baixa de Lisboa está no centro histórico da cidade e por lá há registros de muitos acontecimentos ao logo do tempo. Lisboa sempre linda com seus encantos, suas histórias, cidade cosmopolita…
 
Iniciando pela Praça do Município que podemos dizer “onde tudo acontece”, há inúmeros fatos interessantes e importantes que ocorreram neste local até nossos dias. Entre eles, alguns na varanda da Câmara Municipal como a Proclamação da República perante o povo, em 05 de outubro de 1910, como também, quando o Campeonato de Futebol Nacional o vencedor é uma time de Lisboa, este é recebido pelo Presidente da Câmara e juntos vão a varanda festejar o campeão nacional com a população que ali se encontra.
O Rei D. Carlos I com seu filho foi alvejado nas proximidades, na Praça do Comércio, o monarca faleceu na hora, mas sua carruagem fez o percurso até o Portão do Arsenal na Praça do Município, onde o Príncipe Luís Felipe veio a falecer, seu irmão mais novo D. Manuel herdou a coroa que se tornou Rei de Portugal. Na Rua do Arsenal está o Tribunal da Relação de Lisboa que é o mais antigo do país, ele foi construído sobre o que restou da Ópera do Tejo após o grande terremoto de 1755. 
 
Mais um fato que merece destaque neste sítio foi em 25 de abril de 1974, entre os revoltosos e os fiéis a ditadura havia dois tanques em frente ao outro com ordem para atirar, mas ao fim de alguns minutos de hesitação as escotilhas foram abertas e começaram a se confraternizar, sucessivamente se estendeu pelo país sendo vitoriosa a Democracia, Revolução do Cravos.
Seguindo para a Praça do Comércio, ali chegavam as embarcações dos Caminhos da Índia e do Brasil que anteriormente era o Paço da Ribeira, de um lado havia o Palácio Real e do outro a Casa das Índias, onde todos os bens desembarcados eram escriturados e após comercializados. D. Manuel I, o rei na época, todos os dias atravessava o Terreiro do Paço e pessoalmente assistia o desembarque dos produtos. Este monarca foi quem determinou sua construção, a qual iniciou em 1498.
 
Poderemos ver como era exatamente o Terreiro do Paço em um painel de azulejo fixado no Miradouro de Santa Luzia. Os prédios não eram uniformes como hoje, uns mais baixos e outros mais altos, porém os planificadores das obras de Lisboa fizeram mais semelhantes e o grande promotor da reconstrução foi o Marquês de Pombal. 
 
Alguns conselheiros queriam abandonar Lisboa, deixar tudo como estava e construir uma nova cidade em outro lugar, mas o Marquês tomou a frente e promoveu a reconstrução de uma Lisboa mais moderna com ruas mais diretas e mais largas, inclusive emitiu decretos para o ordenamento das reconstruções, a exemplo dos nobres que começassem a construir os seus palácios sem que existissem planos definidos, não somente teriam suas casas demolidas, como também, teriam que pagar a demolição.
 
Uma curiosidade, a bela Rua Augusta que se inicia a partir do Arco da Praça do Comércio possui este nome não porque é uma rua linda, larga e suntuosa e, sim devido ao Rei D. José que governou no período absolutista, tempo que para se referir a figura do monarca deveria mencionar adjetivos como magnificente, glorioso e então, esta rua era denominada “Augusta Figura do Rei”, pois temos a visão em toda sua extensão da estátua no centro da praça, como o nome era muito longo ficou apenas Rua Augusta.
 
Ao longo da Baixa poderemos perceber em alguns prédios o estilo Manuelino que é uma conjugação da arte gótica com a mudéjar de origem árabe, esta foi desenvolvida principalmente em Servilha e no Bairro da Mouraria também era muito presente, então os portugueses mesclaram os dois estilos e criaram outro. Eles aproveitaram o que restou após o terremoto construíram igrejas e edifícios com portas e janelas com esta arte do período de 1500 nas edificações do séc. XVIII, a exemplo da Igreja da Conceição Velha.
As obras posteriores ao terremoto foram encontradas muitas relíquias como pedras de um Templo Romano dedicado a Deusa Cibeles, se fosse na atualidade seriam expostas em algum museu, mas na época não havia este conceito e, a melhor maneira que entenderam para valorizar as peças foi as fixar nas paredes de uma nova edificação para que a população pudesse apreciar as maravilhas, porém hoje passa por muitos despercebidos.
 
E ainda, foi também descoberto um Criptopórtico Romano entre a Rua da Prata e a Rua São Julião, são salas no subterrâneo referentes a primeira metade do séc. I, as quais foram esquecidas durante 15 séculos e ninguém sabia de sua existência, provavelmente foram as Termas de Lisboa ou poderiam ser mais uma área de trabalho utilizada por eles. Hoje temporariamente é aberto ao público que é muito disputado com uma longa fila de espera, futuramente a Câmara Municipal possibilitará a visitação permanente.
 
Lisboa é uma cidade cosmopolita, visitada por gente de quase todo o mundo, é uma mistura de cultura, arte, costumes tudo em harmonia. Sempre me emociono quando passeio pela Baixa, pois tenho a sensação que estamos todos unidos com nossas diferenças e semelhanças ao mesmo tempo. Está pandemia irá passar, as vacinas estão batendo a nossa porta e finalmente seremos livres novamente. Regras devem ser cumpridas, mas poderemos modificar algumas para que possamos nos reinventar e sobreviver a tudo isto, com certeza seremos muito melhores…
 
Simplesmente, Lisboa sua lindaaaa…
 
 

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