Wellington Duarte

19/12/2020 13h14
 
Será Bolsonaro a expiação de uma sociedade doente? 
 
 
Qual a fonte do ódio de Bolsonaro aos pobres? De onde vem sua necessidade patológica de lascar os trabalhadores? Como explicar um militar tão submisso à um país estrangeiro? Por que o presidente adora mostrar sua estupidez, canalhice e toda uma série de atributos desprezíveis nas redes sociais, sem nenhum pudor?
Essas provavelmente serão as perguntas que cientistas políticos terão que fazer, talvez num futuro próximo, para buscar entender como uma nação, que chegou a ser a sexta economia do mundo, decidiu ser laboratório de um governo descaradamente fascista e incompetente. 
 
Buscar razões para a insensatez é uma tarefa que pode mostrar a imagem que não queremos ver e que escondemos. O que dizer de uma sociedade que acredita em mentiras vulgares, que aceita informações bizarras, que rejeita o contrato social, que glorifica a violência, que apoia mesmo que envergonhada o preconceito, que venera a Morte?
Nas eleições de 2018, Bolsonaro foi plenamente vitorioso em Natal (53,0% dos votos válidos) e Parnamirim (60,0%), que juntas somam mais de 1 milhão de habitantes, uma porção considerável da população potiguar e isso é um sinal do quanto os potiguares foram influenciados pelo bolsonarismo.
 
Passados quase dois anos, o que essas pessoas acham do governo Bolsonaro? De acordo com pesquisas recentes, ele oscila entre 35% e 42%, o que é um índice muito positivo para quem é o responsável por mais de 185 mil mortes, já que preferiu a omissão e a sabotagem no enfrentamento da pandemia. 
 
Como explicar que boa parcela da população ainda considere esse governo positivo? Bolsonaro vem cometendo toda uma série de crimes, muitos deles em redes sociais, ou seja, totalmente à vista do Judiciário. As dezenas de pedidos de impedimento do presidente foram colocados na gaveta do presidente da Câmara, sob a alegação estapafúrdia de que chafurdaria o ambiente político e que, nesse momento, é preciso focar no combate à pandemia. Mentira deslavada. Rodrigo Maia sabe muito bem que não há maioria no parlamento para o prosseguimento do processo de impedimento, dado que o presidente possui o apoio promíscuo da maioria dos deputados.
 
 
É certo que a “onda fascista” está espalhada pelo mundo já há algum tempo, revivida depois de sete décadas vegetando como grupos marginais na sociedade. No BraZil, já contaminado pela narrativa anti-petista, que se espalhou para tudo que é progressista, as famosas “jornadas de junho” de 2013 abriram as portas do inferno e as hordas fascistas entraram no seio da sociedade, abrindo caminho para que esta se identificasse com os valores mais abjetos dessa corrente política.
 
Falar sobre nunca é ou será pouco. A sociedade está invariavelmente contaminada pelo bolsonarismo e cerca de 15% dela incorporou, em definitivo, esses valores deformados. Será preciso um grande movimento que combata politicamente o bolsonarismo, mas também será obrigação da Ciência Política desvendar  o DNA desse neo-fascismo, o que fará com que a parte “sã” dessa mesma sociedade busque convencer da periculosidade social do bolsonarismo.
 
Não será fácil e talvez por décadas tenhamos que lutar contra essa praga.
 
Nos miseri, et si placet.
 

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