Bia Crispim

15/01/2021 00h01
 
Como a letra “T” entrou e modificou a sigla “GLS” e o movimento LBGTQIA+
 
  
Vocês devem lembrar que nos idos anos 80/90 o termo mais comum para designar a comunidade conhecida hoje como LGBTQIA+ era GLS, o que contribuía para a visibilidade apenas de Gays, Lésbicas e seus apoiadores, chamados, na época, de Simpatizantes. Em 1995, com o crescimento do movimento contra a homofobia e pela livre expressão sexual, encontros para discutir pautas e políticas públicas GLS,s aconteciam em todo país. 
 
Naquele ano, Curitiba sediava o EBGL, Encontro Brasileiro de Gays e Lésbicas. Foi nessa ocasião que as travestis Jovanna Babye e a companheira Layza Minelly apresentaram a proposta para que o “T” compusesse a sigla do evento que passaria a se chamar EBGLT. Lógico que houve grande resistência, mas, segundo a própria Jovanna, “graças à solidariedade de gays e lésbicas nordestinas que se uniram a nós pela representatividade trans, conseguimos aprovar e o “T” entrou de vez na sigla do encontro citado” E consequentemente na que usamos hoje.
 
A sigla GLS perdurou por pouco tempo, dando lugar GLBT, incluindo os bissexuais, e logo depois, sofrendo outra alteração para LGBT, sigla que foi aprovada na 1ª Conferência Nacional realizada em Brasília/DF em 2008. A retirada do “S” (que havia em GLS), de simpatizante, referindo-se a héteros que apoiavam a causa, deu-se pelo entendimento de que eles não eram protagonistas do movimento. Já a troca de posições entre o “G” e o “L” foi motivada para dar visibilidade às mulheres lésbicas e também promover equidade de gênero.
 
Dessa forma a sigla passaria tanto a contemplar às orientações sexuais (LGB – que representam gays, lésbicas e bissexuais), quanto às identidades de gênero (TQIA, que representam as pessoas transgêneros, travestis e transexuais, as queers, as intersex, e as assexuais).
 
Segundo o site Bog Social 1 do UOL, “a sigla “T” acolhe identidades de gênero dentro do amplo espectro de diversidade. Na primeira letra da sequência TQIA estão incluídos transgêneros, transexuais e travestis: pessoas que se identificam com um gênero diferente do que foi designado no nascimento. É o oposto da pessoa cisgênero (termo comumente usado na abreviação “cis”, que diz das mulheres e dos homens que se reconhecem conforme seu gênero de nascimento).
 
Uma pessoa transgênera se enxerga e se coloca para além do gênero a que foi designada no nascimento. Ela rompe com o que está posto e transgride os códigos sociais e culturais construídos e atribuídos a cada gênero, uma vez que transita entre eles.
 
A pessoa transexual tem uma expressa não-conformidade com o gênero designado no nascimento, ao mesmo passo que se identifica com o oposto. Mulheres e homens transexuais, geralmente, realizam mudanças no corpo para se sentir em conformidade com o gênero que lhe é adequado”, tornando-se refém, muitas vezes de uma cisnormatividade compulsória, sexista e binária.
 
O site ainda diz que “sobre travesti, há o entendimento de que seja o mesmo que transexual; sendo que o uso do termo seria anterior à difusão de informações sobre a transexualidade, que é recente.” 
 
“Tentar encontrar diferenças entre a mulher trans e a travesti gerou uma marca social” – diz o site: A palavra “travesti” é mais associada àquelas de classes sociais mais baixas e marginalizadas. Se quiser constatar, basta acessar o Google com a palavra travesti, e com a palavra mulher trans, ou transexual.
 
No primeiro caso, a palavra vai aparecer ligada à criminalidade, sofrida ou praticada por travestis; já no segundo caso. “trans”, elencam-se algumas histórias de sucesso pessoal, ascensão social e outras relações a coisas positivas. 
 
“Dessa forma, nos anos mais recentes, travestis têm ressignificado a palavra e o “ser travesti”, numa luta política de valorização e contra o preconceito.” – acrescenta o site, que ainda esclarece que “para além da análise social acima, há também a compreensão de que travesti é uma outra identidade de gênero, porque, apesar de transitar pelo gênero oposto, a travesti não se sente, de fato, em não-conformidade com o gênero masculino (como foi designado no nascimento) nem se sente, propriamente, do gênero feminino (como se traveste), diferentemente de mulheres trans.
 
Transgêneros, transexuais e travestis têm sido reunidos no termo transvestigênere.” A letrinha “T” tá com Tudo, talvez seja a sigla mais democrática do movimento por acolher tantas de nossas pluralidades.
 

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