Wellington Duarte

16/01/2021 00h06
 
 
No reino da cloroquina brasileiros morrem sufocados e o presidente se vale da ignorância para sua cruzada da morte
 
Quem leu sobre a Peste Negra, chamada também de “Morte Negra”, a maior pestilência já registrada na história da humanidade, sabe que ela não desapareceu de um dia para outro. Segundo pesquisadores, a praga teria surgido nos rincões da Ásia, na fronteira do atual Quirguistão (a terra dos quirguizes) e a China, por volta de 1338-39, e matou cerca de 24 milhões de asiáticos, antes de desembarcar na costa italiana, em 1346, se espalhando por toda a Europa, e estima-se que tenha matado de 30% a 60% da população da Europa. No total, a praga pode ter reduzido a população mundial de cerca de 475 milhões para 350–375 milhões no século XIV, matando, portanto 100 milhões de pessoas. O “tempo” da Peste foi registrado como sendo de 1346 a 1353, portanto foram sete anos da mais completa destruição. E a Peste foi tão devastadora que levou até 1500 para a população europeia recuperar os níveis de 1300, além de ter destroçado a estrutura da sociedade de então, baseada no feudalismo. A Peste mudou o mundo.
 
Uma outra grande pandemia, a Gripe Espanhola, que de espanhola nada tinha, pois seu primeiro caso foi registrado em março de 1918, nove meses antes do término da Grande Guerra de 1914, no Kansas (EUA), e se espalhou pelo mundo todo até pelo menos meados de 1920, com quatro grandes ondas de contaminação, e com números devastadores pois o vírus contaminou nada menos que 1/3 da população da terra e matou entre 20 e 100 milhões de pessoas, dependendo da metodologia utilizada na contagem dos mortos. De qualquer foram, usando dados conservadores, entre 1% e 6% da população mundial morreu devido a gripe. Se olharmos que foi num momento em que a humanidade tinha perdido mais de 20 milhões de pessoas devido a guerra que começara em julho de 1914, concluiremos que a Morte desembarcou alegremente no mundo e sua colheita, de seis anos, amealhou milhões de mortes.
 
A Pandemia, que se espalhou pelo mundo desde fins de dezembro de 2019, portanto a 13 meses, já matou quase dois milhões de pessoas e contaminou mais de 93 milhões de pessoas. Estamos num novo patamar de desenvolvimento das forças produtivas, e o mundo está muito diferente do que tinha-se no século XIV e início do século XX, pois temos muito mais recursos tecnológicos e deveríamos estar muito mais preparados para qualquer grande crise mundial.
 
Considerando que a Pandemia não é uma “gripezinha”, como o presidente genocida disse em março do ano passado, temos que considerar ela, a Pandemia, continuará por algum tempo nas nossas vidas, mesmo com a vacina sendo disseminada. E aqui entra o desenvolvimento do processo civilizatório no país, que está sujeito às intempéries de sua formação histórica. 
 
Numa sociedade extremamente desigual, devastada por uma crise econômica e contaminada pela mais cruel ignorância, os efeitos da Pandemia, a atual, é desolador. Some-se a isso a atitude criminosa do governo federal, responsável direto pela propaganda sabotadora com relação aos efeitos danosos da pandemia nas pessoas, e teremos o inferno na terra.
 
Mais do que nossa pobreza econômica, de volta depois de treze anos de relativo desenvolvimento econômico e social, mergulhamos no absurdo de termos um presidente da República que sabota descaradamente o combate à pandemia, matando pessoas ou as deixando com fortes sequelas, muitas delas para o resto da vida. Bolsonaro e seu agente auxiliar da Morte, o generaleco Pazuello, mantém, mesmo agora, sua atitude cruel de querer se livrar dos cadáveres. É um jogo macabro e muitos brasileiros já pagaram caro por isso. Muitos ainda vão pagar, e entre eles os que acreditaram nesse semeador do caos que está na presidência.
 
Nós, potiguares, nesse cenário sombrio, devemos fazer uma reflexão, que não precisa ser muito profunda, podendo ser rasteira mesmo. Nós representamos 0,7% da população e temos 1,5% dos mortos pela Pandemia pelo país, o que já deveria servir para parar e pensar. Nossa solidariedade aos manuaras, vítimas de um conjunto de incompetências, a ponto de os cidadãos morrerem por falta de balões de oxigênio e com o governo federal se eximindo de responsabilidade, é uma questão de respeito e de reverenciar a Ciência, pois ela luta contra a ignorância e a falta de empatia dos brasileiros.
 
 

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