Emanuela Sousa

17/01/2021 09h45
 
Felizes os que sentem? 
 
 
É chegado um momento de nossas vidas que a gente simplesmente quer apenas tocar a vida para frente, não queremos mais viver naquela pele. As injustiças do mundo incomodam, sufocam, nos inquietam. 
 
Esses dias fui pega de surpresa por uma sensação incomum. Um incômodo tímido, queria ter respostas do que estava sentindo.
 
Calcei os tênis e fui rumo à Avenida Paulista. Todas às vezes que me vejo contemplativa vou até ela, talvez lá de alguma maneira, eu encontre as respostas que  tanto almejo. Caminhei sobre as calçadas, que aquela hora eram vazias, parei para tomar um café numa pequena cafeteira sofisticada e confortável. Alguns minutos se passaram...
Queria saber explicar o sentimento.  Mas sentir é sempre tão difícil quanto  decifrar. Quando somos intensos parece que nada é explicável, tudo é complexo. 
 
 Os sensíveis sofrem mais. Carregam nos ombros o peso do mundo, só não  admitem que estão carregando, somente para não dar este fardo ao outro. Não há âncoras para nos salvar, a não ser nós mesmos. 
 
Queria por um dia não sentir absolutamente nada, ser apática. Só para ver como é... Para não segurar a melancolia do mundo, não ser "esponja" e evitar de absorver raiva,  impotência, saudade, não ter as inquietações quando encaro teus olhos. 
 
 Alguns sensíveis morrem cedo. Não se assuste com isso, porque carregam durante toda sua vida paixões raras, imergem em emoções perigosas, abraçam a tristeza alheia, sentem febre por seus desejos. 
 
"Como faz para desligar o sentir?" Não tem jeito para isto. E já que não é possível,  gostaria de saber de alguém como é dizer palavras doces sem ao menos tatea-las, como é dizer "eu te amo" da boca pra fora. Talvez eu já tenha feito isso algum momento na vida e não me lembre, no calor da emoção, mas nunca na falta delas.
 
Será que ser indiferente à qualquer tipo de emoção poderia me salvar desse tipo de tragédia? Talvez sim, eu poderia  sofrer menos, mas talvez eu vivesse  menos...
 
Os faróis da avenida mais bonita da cidade se confundiram  com os reflexos dos meus olhos, que  transbordavam em lágrimas. Com os olhos molhados, rumo ao fim dessa avenida os enxuguei na manga da blusa. Tentei buscar as respostas ao final dela, mas tudo que sei até agora é que continuo sentindo... Tenho a sensação que irei explodir.  
 
Felizes os que sentem? Ou felizes são os indiferentes, os frios e desapaixonados que têm a capacidade de atravessar essa vida sem nenhum arranhão?
 
Se alguém sabe onde desliga o botão "sentir" me avise.
 

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