Wellington Duarte

23/01/2021 10h43
 
Os “fura-filas”: A praga social que nos envergonha
 
 
Eu já ouvi, de um estrangeiro, que o BraZil era um país especial porque era “alegre e esculhambado”, que não se dava muita atenção à organização etc. Os que estavam à sua volta, brasileiros, concordaram e até exaltaram esse lado do brasileiro, muito afeito à frouxidão das regras sociais.
 
Todos nós já ouvimos relatos de “carteiradas” dadas por agentes públicos; do tradicional “com quem você pensa que está falando?” , proferido por escalões mais altos do Judiciário, de forças de segurança pública, de representantes do povo com surtos de autoritarismo; e pelo mais antigo ainda, “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, que pode facilmente ser ouvido dentro dos órgãos públicos, principalmente os da base da federação, os municípios, onde os prefeitos ainda se comportam como pequenos senhores feudais.
 
Mas se tem uma coisa que já presenciamos, foram as “furadas” de fila. Parece uma praga social, introjetada nos brasileiros, que parecem ter um “tesão” em quebrar regras civilizatórias e atravessar na frente das pessoas, quando estão em filas de espera. Já foi pior, pois eu mesmo achava que nós estávamos tão acostumados a essa “regra cultural”, que nem fazíamos mais questão de reclamar. O tempo foi mudando esse comportamento passivo e hoje em dia já vemos os brasileiros que não aceitam mais os “fura filas”.
 
Mas aí veio um governo que venera a má educação e a ignorância e fez o processo civilizatório do BraZil regredir. Os efeitos disso são vistos agora, na distribuição das vacinas, feita em pequenas quantidades e que, portanto, exigiria o estabelecimento de prioridades no processo de vacinação. E aí o “monstrinho do fura-filas” voltou à carga.
“Denúncias de fura-filas da vacinação são apuradas em sete estados, Correio Braziliense”; “Denúncias de fura-filas da vacinação são apuradas em sete estados, Agência Brasil”; “MP apura denúncias de 'fura-filas' da vacina em ao menos 8 estados, CNN Brasil”; e em vários estados e municípios foram registradas denúncias. 
 
No RN, a terra dos potiguaras, as denúncias se sucedem e em Natal, que recebeu 12 mil doses da Coronavac, a própria Secretaria Municipal de Saúde confirmou a furada de fila e justificou isso como um “equívoco”, ou seja, assumiu a incompetência do planejamento e de como a canalhice dos “furas-fila” são elementos que insistem em estar presentes na nossa sociedade.
 
O próprio prefeito, Álvaro Dias, muito bem avaliado pelos natalenses, deu a primeira “carteirada”, em 19/01, anunciando em alto e bom som que ele, nosso “coronel”, seria o primeiro a se vacinar, mas as repercussões extremamente negativas o fizeram recuar e veio com a patética desculpa de que as pessoas, que talvez ele ache que são completos imbecis, “entenderam mal”.
 
O fato é que estamos expostos, novamente, às nossas distorções sociais, nossa deficiência no que se refere às regras civilizatórias e como um movimento reacionário fez reavivar esse comportamento entre os nossos chefes, vizinhos e amigos.
 
 A vacinação se arrastará por meses, devido à sabotagem feita anteriormente pelo governo federal, agora obrigado a distribuir as vacinas, só que, cumprindo à risca o “jeitinho brasileiro”, o faz de maneira destrambelhada e esculhambada, mostrando como foi danoso o desaparelhamento do Estado, provocando o colapso da gestão pública.
Caberá, acredito eu, à sociedade reavivar sua atenção para os casos que envolvam os “fura-fila” e fiscalizar, de perto, o processo de distribuição e aplicação das vacinas, e isso exigirá a volta de um comportamento social que acabe com essa “praga”.
 

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