Bia Crispim

19/02/2021 00h02
 
Aqui quem vos fala é uma professora
 
 
Não sei se todos sabem, mas eu sou professora. A única professora travesti na rede de ensino privado do RN e uma das poucas no sistema público de ensino estadual.  (Falo disso mais como um sinal de alerta e preocupação do que simples vaidade, como muita gente pode pensar). 
 
Quero compartilhar uns sentimentos bons que me arrebataram durante essas duas últimas semanas graças às vivências maravilhosas que tive nesse período. Falo das reuniões pedagógicas que animaram o início de um novo ciclo letivo. Falo de voltar para a sala-de-aula presencialmente e rever, mesmo de forma reduzida e dando a mesma aula repetidas vezes para atingir todo o alunado, as carinhas que há quase um ano estavam de frente comigo diariamente.
 
Que alegria eu senti quando, no pátio da Escola Estadual Professor Felipe Bittencourt – Parelhas/RN, reencontrei alguns dos meus caríssimos companheiros e queridíssimas companheiras de labuta. Apesar de não termos nos confraternizado com abraços, beijos ou apertos de mão; apesar de não termos vistos os sorrisos por trás das máscaras, alegramo-nos por, primeiramente, estarmos vivas e vivos. 
 
Depois por estamos colocando os pés na escola e vê-la, tão limpa, tão organizada, tão receptiva, com tapetes, pias, aspersores e/ou “dispensers” de álcool do lado externo das portas dos recintos e marcação no chão para delimitar o distanciamento dentro das salas.
 
Acredito que saímos felizes com o que vimos e com as esperanças renovadas para nosso tão esperado retorno presencial. Retorno que aconteceu alguns dias depois de fecharmos esse encontro com cachorro quente, refrigerante, salgados e docinhos... Parecia uma festa! Mas era assim que estava sendo, uma festa. Reencontrava-nos, tratávamos novamente de estratégias docentes, nos animava a ideia de ver a escola sendo preenchida por quem de direito ela pertence: os/as estudantes.
 
Não vou deixar de dizer do receio que ainda temos e de um certo medo que ainda paira sobre nós. Mas a possibilidade de termos uma parte de nossas vidas sendo recolocada nos eixos, mesmo que de maneira ainda parcial e artificial, nos enche de uma força nova, de um acalanto para o nosso confinamento, um suspiro para nossas angústias.
Estamos no front, novamente. Armados, não só de livros e saberes, mas de cuidados, de novos olhares, da paixão pela docência reavivada, da esperança em dias melhores. Aprendemos a ver o ser humano de outras maneiras e isso se refletirá nessas salas-de-aulas. 
 
Vejo o quanto de lições a pandemia nos deixou, e encaro a escola como o espaço ideal para que juntos possamos refletir mais sobre nossa humanidade; para que o ensinar/aprender seja, de fato, humanizador; para que reconheçamos nossas fraquezas e nossas potências; para que, após todas essas lições, consigamos nos transformar positivamente e ajudar na formação de indivíduos cada vez melhores. 
 
O mundo clama por essas pessoas, tanto quanto pelo fim da pandemia. 
 
 

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