Bia Crispim

26/02/2021 00h03
 
Rest in power,  Lorena!
 
Lorena saiu de Pernambuco com destino a São Paulo a fim de realizar o desejo de fazer uma cirurgia para colocar implantes de próteses mamárias... 
 
Esse é o início de uma história que poderia ocorrer com qualquer mulher, não é mesmo?! E que poderia terminar com um final feliz. No entanto, no dia de sua cirurgia (17/02), houve um incêndio no prédio onde ocorreria a intervenção cirúrgica e durante a evacuação deste, Lorena, que ainda estava sedada aguardando o procedimento, foi abandonada pela equipe da clínica, inalando uma alta quantidade de fumaça e gás carbônico, que ocasionou um agravamento na sua saúde. 
 
Ela foi socorrida e transferida para atendimento hospitalar em estado gravíssimo, mas, infelizmente, não resistiu. 
 
“Infelizmente, Lorena é mais uma vítima da opressão de gênero, da pressão estética cissexista e do descaso do estado nos cuidados da saúde específica da população trans. E este não é um caso isolado”, diz uma nota da ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais.
 
Esse episódio faz a gente refletir sobre várias questões, mas a principal é no tocante ao acesso à saúde de pessoas Trans/Travestis, que enfrentam os piores índices de acesso à saúde e aos cuidados relacionados à transição, à saúde específica ou à saúde de um modo geral... 
 
“Sabemos que há uma fila de espera de anos para o acesso aos procedimentos previstos no processo transexualizador do SUS, que enfrenta dificuldades pela falta de investimentos e pelos congelamentos dos gastos em saúde, onde não há profissionais, hospitais e ambulatórios suficientes no país e que durante a pandemia houve uma paralisação em cerca de 70% nas cirurgias e atendimentos previstos para a saúde específica das pessoas trans.” Diz a ANTRA em nota publicada em seu site em 21/02.
 
“Todo esse cenário de descaso, abandono e exclusão, aliados a transfobia institucional e a invisibilidade de nossas pautas em espaços de discussão e construção sobre direitos sociais, faz com que grande parte da população trans acabe se submetendo a modificações corporais pouco planejadas, realizem procedimentos clandestinos e/ou hormonização sem acompanhamento médico especializado, sendo obrigadas a buscar profissionais que acabam por se aproveitar de nossa vulnerabilidade, expondo a população Trans a poucas garantias de resultados satisfatórios e uma assistência quase inexistente durante o processo posterior aos procedimentos. Especialmente aqueles profissionais conhecidos por nos tratarem como mercadoria e sem nenhum compromisso com nossas vidas.”, continua a mesma nota.
 
Diante desse caso que tomou grande repercussão nacional faz-se urgente a discussão acerca das garantias ao acesso e aos cuidados com a saúde da população Trans/Travesti. Faz-se urgente que essa pauta seja levada para o cotidiano de gestores, parlamentares, trabalhadores da saúde, e de toda a sociedade, a fim de que estratégias de acolhimento das demandas, a melhoria nos serviços e a ampliação da rede de cuidados possam ser viabilizados. 
 
A formação médica especializada, a capacitação das equipes técnicas e das unidades de saúde para o atendimento de nossa população seriam estratégias iniciais para a universalização dos direitos à saúde, assegurados na Constituição, para pessoas Trans/Travfestis. 
 
Talvez, dessa forma, casos como o de Lorena e de outras tantas mulheres não ocorressem com tão grande frequência. Lutemos, pois por um SUS universal e equânime para todas, todes e todos.
 

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