Daniel Costa

02/03/2021 08h18
 
O DIABO NOS TRÓPICOS
 
 
Deus não é brasileiro. Nunca foi. Mas agora isso está comprovado com certidão passada em cartório. Afinal, quem encomendou um presidente do naipe de Jair Bolsonaro para guiar o país no curso da maior crise sanitária dos últimos cem anos?
 
Não é que estejamos sem Deus no Brasil. Mas, venhamos e convenhamos, ele não agiu nada bem ao indicar um presidente pouco recomendável para o comando da nação. É difícil engolir essa constatação e não se revoltar. Bate até um desespero. É como se sentir sozinho no meio de um vendaval. Não há apoio governamental para que a população consiga enfrentar um futuro que se afigura sombrio. A gente vai ter que atravessar tudo com as próprias pernas, sem a ajuda de ninguém.
 
Ausência de leitos nos municípios, pessoas padecendo desassistidas, equívocos grosseiros do Ministério da Saúde, negacionistas de plantão e charlatões que promovem o uso de remédios com eficácia não comprovada, só para subir alguns degraus no palanque político.
 
Tudo isso sem esquecer do arranca-toco entre União e entes federados, nascido da divulgação, pelo próprio presidente da república, dos valores obrigatórios repassados aos Estados, sem relação direta com o combate ao coronavírus, numa clara tentativa de jogar nas costas dos governadores o desastre da gestão federal na contenção da pandemia.  
 
A dor, o sofrimento e a solidão das pessoas não são problemas que façam o governo perder o sono. Até mesmo porque, no final, tudo vai acabar em pizza e não numa condenação pelo Tribunal Penal Internacional, como deveria acontecer num caso como o do presidente do Brasil, que está a usar a crise da covid, de maneira consciente, como uma ferramenta para exterminar parte da população.
 
O diabo vive aqui por esses lados dos trópicos. Ninguém se engane. É fácil constatar. Basta ligar a televisão e saber das mais de mil mortes diárias no último mês de fevereiro, e depois ouvir o capitão-mor, com base em fake news, dizer que o uso de máscara não é importante, em um país com UTIs lotadas e escassez de vacinas. Como cantam Chico Buarque e Edu Lobo, o corpo já não sabe o que faz, Satanás.
 
Adiós. Vou aqui pegar quatro latas de cerveja, sorver alguns goles de Bohemia e tentar ludibriar os pensamentos com algum filminho de Woody Allen. Até porque, caro leitor, nesse frevo do diabo, amanhã será outro dia esmagador. 
 

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