Renisse Ordine

11/03/2021 08h31
 
Leia como uma mulher
 
 
Ultimamente, o tema “Mulher” tem se tornado frequente em várias discussões em redes sociais, mídia e principalmente,nas principais feiras literárias que são realizadas pelo Brasil. Nunca se falou tanto sobre as questões femininas. Isso é um avanço!
 
Escrevo com propriedade sobre esse assunto, pois, como mulher e escritora, sinto a importância de palestrar sobre a mulher literária, para um público composto por homens e mulheres. A relevância do tema são para esses dois públicos, com o mesmo peso. 
 
Por séculos, as mulheres vêm lutando para conquistar o seu espaço, e escrever sobre o que quiser, trazendo para as suas produções o assunto que desejar. Ao abrir um livro escrito por uma mulher, se espera textos relativos ao romance. Quando ocorre ao contrário, muitos se chocam, pelo posicionamento da escritora. 
 
Para a literatura não deveria existir gênero, bom se fosse, que os livros nem precisassem indicar nomes. Na real, o que vale é o que está escrito em seu conteúdo. Mas, se assim é, que não sejam separados, como costumam dizer: azul para meninos e rosa para meninas. O espaço deveria ser livre, assim como os pensamentos deveriam ser. 
 
Das mulheres não se deve esperar somente romances, com a mocinha sendo salva. Não, as mulheres são seres humanos, que por séculos lutaram e continuam a lutar por esse espaço. 
 
Nos séculos que antecederam ao nosso, as mulheres precisaram sacrificar a sua própria liberdade para não se abdicarem da sabedoria e da leitura, como é o caso de Sor Juana Inês de La cruz, poetisa mexicana, ícone feminista da América Latina, no século XVII. Para ela foi exigido uma escolha: a liberdade ou os livros. Ela optou pelos livros. E passou a viver enclausurada em um convento. O que foi prontamente uma ilusão, a enganaram para que ela parasse de incomodar os homens com sua inteligência.  
 
Reclusa em um convento, o único livro que poderia livremente ter acesso era a Bíblia. Mas não seu deu por vencida, mesmo recebendo castigos e punições, lutou e prezou pela sabedoria. Os seus livros, os quais eram considerados pagãos, como os de autores filósofos, ela os mantinha enterrado para quem ninguém os levasse embora. 
 
Tempos depois, as mulheres precisaram se esconder atrás de pseudônimos masculinos para que seus livros fossem aceitos por editores e, posteriormente, serem publicados. Dois desses casos são Jane Austen, de Orgulho e Preconceito, e as Irmãs Bronte, conhecidas por Jane Eyre e O morro dos ventos uivantes, que se tornaram clássicos mundiais. 
Percebe-se que o espaço literário feminino caminha em passos lentos pela história. 
 
Quando se diz, que é preciso ler como uma mulher significa que os homens, durante a leitura, possam compreender os desafios que as mulheres enfrentam para poderem se sentar e escrever. Um poço profundo de desafios! Não é fácil quando a mulher carrega em si, a responsabilidade pela organização familiar e doméstica. 
Quando ela desafia o mundo e se dispõe a se dedicar à escrita, a sociedade a cobra. 
 
Também significa que outras mulheres leitoras, passem a ler como mais atenção, as escritoras femininas. E se sintam encorajadas a fazer o mesmo, seja através das letras, da música ou da fotografia. 
 
A literatura pertence à humanidade, e tem a capacidade de transformar vidas. Então aproveitem, leiam todos como uma mulher, que não desiste diante das dificuldades, e transformam as suas lutas, em um retrato de várias faces. 
 
Um homem que lê como uma mulher é capaz de mudar um comportamento mal intencionado, e aprender a respeita-la; uma mulher que compreende o que outra escreve, é capaz de se libertar e também escolher o seu lugar de fala. 
 

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