Daniel Costa

05/04/2021 00h08
 
NÃO É HISTERISMO
 
 
Quando Bolsonaro irá tentar dobrar as pernas da democracia pra valer? Essa é uma pergunta que precisa ser feita, já que parece não existir dúvida quanto essa sua intenção. Para utilizar uma expressão bem ao gosto dos juristas, trata-se de uma praesumptio iuris et de jure, sem possibilidade de prova contrária.
 
Não é histerismo. Os desejos autoritários do presidente vêm de longe, e a recente saída de alguns militares das abas do poder central, por se negarem a apoiar medida de exceção, apenas tornaram mais explícitos os seus desígnios; de resto já bastante conhecidos, ao menos para a turma que não caiu apaixonada pelas curvas do seu topete e que se deu ao trabalho de sacudir dos ombros a poeira ideológica.  
 
Afinal, foi Bolsonaro que afirmou que “o erro da ditadura foi torturar e não matar”; e que no período do governo militar “deveri-am ter fuzilado uns 30 mil corruptos, a começar pelo presidente Fer-nando Henrique”. Foi também ele que reverenciou o torturador Bri-lhante Ustra, ao ocupar a tribuna da Câmara dos Deputados para defe-nestrar Dilma Rousseff do poder. E já no curso do atual governo, não foi outra pessoa que correu às ruas para se congratular com manifes-tantes que pediam o fechamento do Supremo Tribunal Federal. 
Algum brasileiro tem ideia de como seriam as imagens de 30 mil conterrâneos passando por pelotões de fuzilamento quilométricos? Ou sufocados por gases no Arena das Dunas?
 
O momento pode até não ser propício para quarteladas e coisas do gênero, já que em razão da completa ineficácia do governo federal no combate à pandemia, a bancarrota econômica começa a es-pargir estilhaços para tudo quanto é lado, atingindo desde o valor da cesta básica, até o volume de lucro dos grandes empresários. Bolsonaro perdeu as rédeas do poder, e hoje ele tem que prestar contas ao centrão, que abocanha cargos e mais cargos com o seu aval. 
 
Mas que ninguém se engane. As ideias autoritárias do capi-tão permanecem vivíssimas. Elas não arrefeceram. Se atualmente a conjuntura político-econômica não pende para o seu lado, amanhã o cenário poderá ser outro; principalmente porque boa parte dos milita-res se mantém fies a ele como cães de guarda, ainda que cientes de suas fixações dignas de um Luís Napoleão. 
 
As eleições presidenciais se avizinham. E em caso de imi-nência de derrota, é certo que Bolsonaro não passará o bastão do poder sem antes tentar rasgar a Constituição e partir para um putsch, tal como fez Trump. O problema é que a diferença entre a recente democracia brasileira e a secular democracia americana pode ser a régua que mede a distância entre o sucesso e o fracasso de um protoditador. 
 

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