Eliade Pimentel

08/04/2021 00h03
 
 Amanheço o dia contando gatos
 
1, 2, 3, Canelinha está aqui com os bebês, a Hic dormiu em casa, Nunc já acordou e saiu, Frajola está em cima da mesa esperando o café da manhã... Fafá... hummm... cadê os filhotes da Fafá, hein? Quem nunca se perguntou, se questionou, onde é que eu vim parar? Quem sou eu? Pois é, me transformei nesta pessoa que ama morar no campo, tem mil e um felinos, que já deixou de sair de casa porque havia uma gata tomando antibiótico ou porque tinha que tomar conta da outra que foi castrada. Certa vez, perguntada sobre meu estilo de vida bucólico, respondi com a frase clássica: prefiro ser essa metamorfose ambulante. 
 
Na verdade, o que eu prefiro mesmo é ser a melhor versão de mim mesma. Para quem contava calorias na adolescência, porque se achava gorda, e hoje em dia faz trocadilho: quando Deus “me” desenhou, ele estava namorando, o resultado da relação custo-benefício parece bem favorável no que se refere à autoestima desta garota. É porque eu gosto de me avaliar se estou bem, o que posso melhorar, se é assim mesmo que desejo estar. Ao mesmo tempo, penso em como é bom curtir cada momento deste dom que é a vida. Que tenho saúde para me levantar, caminhar, fazer meu café e pensar no próximo passo que eu preciso dar para continuar minha caminhada. 
 
Sobre ser esta ou aquela pessoa, uma amiga outro dia postou uma foto e na legenda estava estampada a autocrítica: “eu me transformei na pessoa que eu mais temia, gordinha de cropped.” Eu respondi que ela se transformou numa pessoa autêntica, porque com a barriga de fora ou não, essa minha amiga já deu milhões de provas de que é maravilhosa. Zelosa com a família, com as amigas e os amigos, tem um coração de ouro, além de ser determinada e batalhadora para ir em busca de tudo o que deseja. Uma daquelas meninas porretas mesmo, como se dizia nas antigas. 
 
A nossa melhor versão é construída a cada dia, cada manhã, com a reflexão de cada erro que cometemos, somada a cada vitória que alcançamos. Tem uma moça que eu sigo no Instagram, Renata Concha, que “prega” essa busca, a melhor versão para a mulherada, seu público-alvo. Esses dias, ela postou sobre sua rotina matinal, porque as seguidoras pediram. Mas, ao vê-la ainda de camisola nos stories, dizendo que troca a filha primeiro, depois é que se troca, veste a roupa de treino, toma meio litro de água e tais, eu percebi a verdadeira curiosidade das pessoas. 
 
Elas buscam encontrar, ao observar uma cena ou outra da vida real da musa, de onde ela tira a motivação para treinar em casa e buscar sua melhor versão. As dicas são meio óbvias, como: vista-se com roupa de treino, para não ter motivo de se esquecer de treinar. Isso tudo, na verdade, é motivação em pequenas doses de estímulo diário, que acabam tendo a força de uma prescrição médica. Com certeza há milhares de mulheres que buscam sua melhor versão, seja com ela, seja consigo mesma, seja ouvindo os conselhos de uma amiga, ou da mãe ou da avó. O importante é se reconhecer. 
 
Então, reconheço em mim uma pessoa feliz, que está em paz consigo mesma, que está em paz com a natureza e amanhece o dia grata por tudo. Se amanheço o dia contando os gatos, tratando-os por nomes, ajeitando seus paninhos como se eles fossem uns bebês, correndo para comprar ração antes que a loja feche, pesquisando o melhor preço, plantando babosa para passar da orelha eternamente machucada daquela gata branquinha, que está sempre dodói porque é muito sensível ao sol, é porque algo além do que eu imaginava passou a me preencher. 
 
Esse preenchimento que nos falta é o que deve motivar as nossas buscas. O que me falta? Ter amigos, ter uma companhia, ter uma fé? Ter saúde, ter disposição? É tempo de estudar outro idioma? É tempo de ir morar noutra cidade, morar noutro país? O que me falta? Ajudar na comunidade? Ter um cão? Ter um filho? Ajudar no orfanato, no asilo? Me inscrever para um concurso? Não se culpe se você hoje não vive como esperava viver. Não se culpe se o seu caminho tomou outro rumo. Não se culpe por ainda não ter chegado a sua melhor versão. 
 
Vendo a moça do insta passando base para ficar em casa, lembrei-me das minhas aulas de ballet, quando eu me sentia a própria bailarina clássica toda linda de coque e com uma leve maquiagem, base, rímel, batom e blush. Sim, mesmo sabendo que ia ficar rosadinha do exercício, algumas vezes eu me arrumava para me admirar pelo espelho da sala. A escola era linda, o cenário de filme, e com certeza aquela era a melhor versão de mim mesma. Esta de hoje é a melhor, a de manhã será a melhor, e a cada dia, a cada contagem de gatos, quero me sentir cada vez mais completa, totalmente preenchida!
 

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