Eliade Pimentel

15/04/2021 09h24

O poeta e sua lista de desejos 

 
Nesta semana em que o precioso poeta potiguar Thiago Medeiros (14/04) fez aniversário, ele publicou em suas redes sociais uma lista de desejos para quem quiser mimá-lo. Com medo de errar o presente, algumas amigas andaram lhe perguntando o que ele gostaria de ganhar nesta data tão especial. Nada demais fazer listas do que se deseja, não fossem as sugestões tão inusitadas. Pontuada por um quê de simplicidade, a lista é antes de tudo um tapa na cara da nossa sociedade consumista, pois ao mesmo tempo em que mostra as carências emocionais e materiais do nosso poeta, revela sua alma solidária. 
 
“Eu não gosto muito de comprar coisas caras em lojas, não só pelo meu pouco poder aquisitivo, mas, também, por gostar das coisas com memória, afeto, sentimento”. Que lindeza. Muito a ver com este jovem que é pura sofrência por viver num mundo tão cruel com pessoas que procuram viver com dignidade de sua própria arte. Esta pandemia, que não está dando trégua a ninguém, chega a sufocar, mesmo sem contaminar, os que são artistas. Ao meu ver, são esses seres que nos dão prazer em viver. A poesia de Thiago nos toca a alma, até numa despretensiosa lista de desejos. Como se diz nos sites de compras? Wish lists?     
 
Autor de Meio Dia, Pra Parar de Me Doer, Ardência e o recém-lançado Quanto Mar Cabe no Sal da Lágrima, esse menino é uma máquina de fazer poemas, com podemos ver em seus desejos de aniversário. Para quem vive as amizades intensamente e a cada evento se materializa em forma de amor, estar longe do público tem sido uma verdadeira punição. “Os dias estão sem abraços, mais um ano assim, então se você quiser me presentear com algo, materializando esse abraço na memória, fiz uma listinha pra humanizar um pouco o consumo e amenizar a saudade que eu tô dos meus amigos”.
 
Ele deu umas dicas muito simples, mas que a maioria das pessoas, tão ligadas ao capitalismo, sequer para e pensa que os melhores presentes são na verdade o carinho, o afeto, o amor, o cuidado e a atenção. E eu, claro, tão afeita às coisas simples da vida, li e reli a lista umas trocentas vezes, identificando-me com sua proposta e visualizando mentalmente de que forma eu poderia chegar junto do poeta. “Dá uma olhada nos teus armários, nas tuas gavetas, nas tuas memórias e se por acaso achar:” – segue a lista!  
“Cadernos, bloquinhos de anotações (eu amo muito). Ecobags de encontros, seminários, simpósios (que nois recicla aqui pra estampar poemas nelas). Um bolo, um café, um galho ou uma folha de árvore. Panelas que não estejam usando (a vida adulta da cristã não é fácil). Óleos essenciais, perfume (eu amo perfume). Filmes em DVDs que não esteja mais usando (eu sou vintage e uso ainda meu aparelho). Músicas em CDs (eu amo e desde a adolescência coleciono). Plantinhas com terra preu colocar as mãos. Uma cerveja (é sempre bom pra ficar pensando melhor, né?)”. 
 
“Cartas, crônicas e declarações de amor, um bilhete (só pedir o endereço que eu dou). Um crushe ou um amor, mas aí é pedir demais, mas eu estendo essa lista as deusas do amor também. Roupas que não estejam usando mais (aqui no meu bairro a população de rua aumentou significativamente e certamente essas peças servirão demais pra eles). Caso queira comprar algo, compra do pequeno empreendedor, dá uma força pros amigos, humaniza e fortalece o corre deles. Caso queira e possa, compra um livro meu e presenteia a alguém que você gosta, eles foram feitos com todo o amor do mundo.” 
 
E por fim, ele sugeriu a compra de uma rifa, mas infelizmente o prazo já acabou. Corre, segue esse menino no Instagram @preuparardedoer ou entre em contato pelo Whatsapp (84) 99850-0524 (que por sinal é a chave do pix) para adquirir seus livros. Além de ter garantido meu bilhete na rifa, a título de um dos itens presenteáveis do nosso amigo, Thiago mereceu também esta crônica. Imaginem que sortudo! Brincadeira, sortuda sou eu por encontrar uma pessoa que traduz numa poética lista de desejos muito do que eu penso sobre este assunto, que é presentear e ser presenteada. 
 
O bilhete da rifa e a crônica com certeza não serão meus únicos mimos ao poeta ariano, pois ele materializou em palavras desejos tão palpáveis que chega dá gosto dar aquela geral na casa, nos armários, nas prateleiras, nas gavetas, no jardim, como ele propôs, e sair de casa com um imenso pacote de coisas que de repente ganharão um novo sopro de vida útil. Meu amigo, como você diz, “o amor é minha única certeza”. E você me fez pensar nisso, no quanto você exala amor por onde passa. Te amo, Thi. 
 
 

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