Daniel Costa

24/04/2021 00h02
 
A DIREITA DO PSICOTÉCNICO
 
 
O Supremo Tribunal Federal confirmou a incompetência do juízo de Curitiba para julgar Lula e manteve a decisão que declarou a suspeição de Sérgio Moro. O ex-presidente agora se vê livre das amarras que o impediam de figurar como pré-candidato para as eleições de 2022. 
 
Esses entendimentos foram assentados em um momento propício para o líder do partido dos trabalhadores, dentro de um movimento que vem sendo desenhado há alguns meses, em que parte da imprensa, do empresariado e de caciques da direita, que até então cuspiam maribondos contra Lula, passaram a apontá-lo como opção em uma eventual disputa entre o petista e Bolsonaro. 
 
Pode parecer estranho, mas tal mudança de direção não acontece a troco de nada. Na verdade, ao mesmo tempo em que Lula é apresentado como a escolha racional diante de uma polarização com o presidente atual, ele também é ilustrado como alguém incapaz de solucionar os problemas do país causados pela catastrófica gestão Bolsonaro. Um pleito eleitoral disputado entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio seria então a cara do desastre. 
 
Essa é a narrativa que a direita tradicional vem tentando construir para se propor como alternativa. É dessa maneira, suscitando as chances de vitória do petista e explicitando a incompetência de Bolsonaro, que ela imagina ser possível se pintar para os eleitores como a melhor escolha. Não por outra razão, figuras do naipe de João Dória e Luciano Huck são alçados à categoria de competidores do centro político, democratas capazes de salvar o país da bancarrota. 
 
O problema é que é preciso combinar com os russos, como diria Garricha. É mais difícil do que parece fazer colar esse discurso na cabeça dos eleitores. Capturar o eleitorado da direta raivosa lançando uma retórica em que as palavras democracia e moderação se sobressaem, é como querer subir o Himalaia de sandália havaiana. Não menos inglória é a tarefa de tentar conseguir o aval do eleitorado de centro, quando as fichas são apostadas em cidadãos como Luciano Huck, Sérgio Moro e João Dória, ligados ao poder oligárquico e com os seus nomes, de alguma forma, atrelados ao do atual presidente da república. 
 
Nas eleições passadas, a jogada de inflar Jair Bolsonaro para diminuir as intenções de voto em Fernando Haddad, e depois lançar Geraldo Alckmin como solução contra o petista, acabou por ser um tiro na testa. Hoje, insuflar o nome de Lula também parece ser um passo arriscado. Mas essa é a única alternativa que resta à direita que passa no psicotécnico, mas que não tem competência para dirigir o Brasil. 
 

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