Emanuela Sousa

06/06/2021 00h35
 
Quem tem medo do amor?
 
 
Outro dia fui pega de surpresa no direct do Instagram. Uma leitora, que raramente me escreve, fez uma pergunta curiosa: "se o amor é tudo isso que você fala nas suas crônicas, porque então temos tanto medo dele?" 
 
Eis a indagação. Reflexiva, recorri à xícara de café e aos poucos minutos de solitude que me restavam naquela manhã para apanhar as palavras certas e responde-la. Porém, não precisei de muito tempo para desenhar a resposta que muitos esperam, e decidi compartilhar aqui com vocês:
 
...Nós não temos medo do amor, temos medo de um conjunto de coisas que são sequelas quando ele acaba:  abandono e a solidão que assombra quando ele se esgota. Temos medo do sofrimento quando se descobre que não estão sendo recíprocos conosco.
 
Todos nós esperamos a chegada de alguém especial. Admita, você alguma vez na vida desejou ter alguém para dividir suas fragilidades, a cama, o livro, os problemas, alguém que justificasse suas maiores loucuras, certo? 
 
No fundo, todo mundo quer ter alguém que nos faça suspirar, que deixe o coração à mil por hora, que nos faça cantar no chuveiro, sair pulando pelos cantos. 
 
Em contrapartida, tenho que concordar com uma única coisa: O amor às vezes é invasivo, chega de mansinho, sem pedir licença e te devora. Talvez por isso muitos o temam. Ele não tem hora para acontecer,  não esta em nossos planos nos render a alguém e permitir que este alguém tome espaço e faça parte dos nossos dias, sendo que até um dia desses estávamos acostumados com nossa solidão, indo fazer mercado sozinho, dormindo, viajando sozinho... E estava bom assim, né? 
 
A partir do momento que começa aquele friozinho na barriga, queremos mesmo dividir esses momentos com alguém em especial... E aí que surge o medo, a dúvida, o receio em ser abandonado a qualquer momento quando você já se acostumou em dividir a cama, o teto, já se apegou às ligações até tarde da noite, quando seu celular já não suporta mais de tantas mensagens. De repente, do dia pra noite você não o tem mais. Começa o luto, a tristeza... Recomeçar do zero, sozinho novamente. 
 
É disso que temos medo. Do sofrimento, da falta, da abstinência. Este combo que se chama "luto". Período que precisamos desintoxicar das lembranças, melancolia da saudade... Este tempo tão dolorido, pode durar dias para uns, meses ou anos para outros. 
 
Achamos que nunca mais seremos felizes novamente, chegamos a pensar que uma parte de nós se foi e nunca mais teremos de volta... Mas, é ledo engano. Um tempo depois estamos amando novamente.  Abertos para conhecer novas pessoas ou não,  sempre vamos esbarrar com um  sujeito por aí... Nas esquinas, na fila do banco, na livraria. Sempre virá alguém.  Você que ainda está com os olhos vendados. 
 
Bendito sentimento esse chamado amor! Que nos faz perder o chão. Nos deixa sequelas tão profundas que na hora da melancolia nos faz blefar que amar é algo nocivo, fazendo mal para a humanidade...
 
O desamor sim,  nos faz mal, nos leva à indiferença, o ódio e o sofrimento. Depois do luto estamos prontos para se entregar novamente. 
 
Necessário lembrar que próprio pai da Psicanálise, Freud disse: "é preciso amar para não adoecer".
 
 

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