Andreia Braz

11/08/2021 09h13
 
Lições da pandemia
 
 
 
E a coisa mais divina que há no mundo é viver cada segundo como nunca mais.
                                                                                                                Vinicius de Moraes
 
Durante alguns anos praticamente não tive lazer nos finais de semana. Estava sempre trabalhando, estudando, cuidando da casa... Trabalhar por conta própria tem dessas coisas. Mas de uns tempos pra cá, tenho repensado algumas atitudes e, aos poucos, estou tentando mudar alguns hábitos, sobretudo aqueles que têm relação com a nossa qualidade de vida.
 
Confesso que a pandemia teve uma forte influência nessa minha postura. Aliás, uma das coisas que aprendi durante o período de distanciamento social foi a importância de aproveitar melhor meu tempo livre. Desde o dia 17 de março de 2020, quando foi decretada a pandemia da Covid-19, vimos nossa vida mudar de repente e muitos de nós passamos a trabalhar e/ou estudar exclusivamente em nossas casas. Esse foi o meu caso. Aquela urgência que nos dominava constantemente, nos fazendo estar sempre ocupados (e alegando, muitas vezes, excesso de trabalho, falta de tempo), e adiando muitos planos, de repente deu lugar a muitas reflexões e, sobretudo, mudanças de hábitos. 
 
Se por um lado, passamos a ter mais tempo para ficar em casa, cuidar da nossa saúde/bem-estar, por outro, fomos obrigados a ficar distante dos amigos e familiares. Um paradoxo e tanto, né? Talvez essa situação tenha nos conduzido a uma nova situação perante a qual fomos levados a compreender o valor do tempo e, sobretudo, o valor daqueles que amamos. Se antes da pandemia, não combinávamos de visitar um amigo ou um familiar porque não dispúnhamos de tempo, no contexto do isolamento social, tempo não era mais problema para alguns, porém o bom senso e a responsabilidade social nos mostraram que ficar distante de quem a gente ama passou a ser uma prova de amor em muitos casos, especialmente quando se trata de idosos e pessoas com comorbidades. E quantas vezes não fui até a casa da minha mãe e tive de me contentar em vê-la de longe, sem poder abraçá-la, receber seu carinho... Depois de sete meses de distanciamento social foi que lhe dei um abraço, e isso porque era seu aniversário. Ela completou 78 anos em outubro de 2020. Após essa ocasião especial, os cuidados com a higiene das mãos e o distanciamento social continuaram. Isso sem falar no uso da máscara. Somente depois que ela tomou as duas doses da vacina é que passei a abraçá-la novamente. Nunca foi tão bom sentir sua presença quanto nesses momentos em que retomamos nossas demonstrações de afeto. Quão valioso é um abraço!
 
Voltemos às mudanças de hábitos impostas pela pandemia e à valorização do tempo. Não reclamo por trabalhar em casa, sei o quanto sou privilegiada, afinal, essa não é a realidade da maioria dos brasileiros, mas confesso que depois de um ano e cinco meses longe do meu ambiente de trabalho/estudo, gostaria muito de poder voltar à boa e velha rotina de ir pra UFRN todos os dias. Saudade dos meus colegas de trabalho, da minha rotina no Instituto Metrópole Digital, do almoço na cantina, das confraternizações... Saudade das aulas presenciais, dos eventos do curso, dos professores... Saudade de tomar um café na Cooperativa do Campus e bater um papo com os funcionários e amigos da UFRN... Saudade de sair da faculdade e encontrar um amigo no meio do caminho e de repente sair para tomar um café, fazer um lanche... 
 
Não estou me queixando por estar trabalhando e estudando em casa porque, afinal de contas, essa realidade nos proporciona um cochilo no meio da tarde, uma visita de um familiar ou amigo no meio da semana... Estou contando as horas para que toda a população brasileira seja vacinada e possamos ter um maior controle da pandemia. Assim, poderemos voltar a trabalhar, estudar e nos divertir com certa tranquilidade. Enquanto isso não acontece, vamos tentar aproveitar melhor os momentos com nossa família e nossos amigos, sem descuidar das medidas de prevenção à Covid-19. 
 
Nos últimos dois finais de semana fiz isso sem culpa. Almocei na casa da minha amiga Ana Cláudia Trigueiro, que eu não via há uns seis meses. Momento desfrutado na companhia da minha irmã Cristina e das nossas sobrinhas Letícia e Raphaela. O cardápio ficou por conta do meu amigo Mário César, que sempre arrasa na cozinha. No final da tarde, saboreamos de um bolo de milho com goiabada. Além de rever esse casal querido, pude reencontrar Seu Zé Lucena e dona Mazé, pais de Ana Cláudia e meus pais do coração. À noite, ainda passei na casa da minha mãe porque meu irmão Paulo Luís estava lá e queria lhe dar um abraço. Foi um encontro rápido, mas feliz. Afinal, a presença dos que amamos é sinônimo de paz, acolhimento... Só faltou a cunhada Rosane Lima, que não pôde acompanhá-lo nesse passeio dominical. Em breve lhes farei uma visita. No último final de semana de julho, mais um pouco de alegria e diversão. Saí para almoçar com Marcos Alvarenga e Verônica Campos. Depois fomos à Ponta Negra. O intuito era festejar o aniversário de Marcos de uma forma que ele adora: tomando banho de mar. Momentos simples de valor inestimável. A última vez que fizemos isso foi há três anos, na companhia de nossa amiga Denise Sales, de quem estou com muita saudade... À noite, ainda fizemos um lanche aqui em casa, com o que sobrou do aniversário de Marcos. Além de Verônica e Marcos, estavam presentes meu amigo Cláudio Everton, que passa alguns períodos do ano aqui em casa, e Paulo Sérgio, meu irmão de criação. Momentos de alegria e descontração.
 
Voltando às lições aprendidas com o isolamento social. Uma outra lição fundamental que aprendi nesse período foi esta: é possível dividir o tempo de forma que possamos trabalhar e/ou estudar e nos divertir sem culpa. Afinal, não podemos esquecer a importância do lazer para a saúde mental, especialmente nesses tempos sombrios e incertos que vivemos. Além do mais, os momentos de distração podem funcionar também como um estímulo à produtividade.
 

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