Wellington Duarte

18/09/2021 11h25
 
Mas você sabe mesmo o que é “passar fome”?
 
 
Você sabe o que é desemprego? Você sabe o que faltar comida na sua mesa? Você o que é viver na miséria, vendo seus filhos se degradarem na miséria, pedindo esmolas e se esgueirando no lixo dos condomínios? 
 
Só para sua informação, em dezembro de 2014, um mês depois da difícil vitória de Dilma Rousseff para presidência da república e o aviso dado por Aécio Neves, de que o PSDB “não deixaria de governar”, tínhamos uma taxa de desemprego que era de 4,9% e, em termos econômicos, estávamos no “pleno emprego”. Lembrem bem desse dado. Isso foi há quase 7 anos.
 
A inflação anual, em 2014, foi de 6,4%, o que já fazia disparar os mísseis dos jornais, anunciando o fracasso do governo Dilma, antes de ele começar. Depois de errar, ao entrega a condução da política econômica para um neoliberal ortodoxo, Joaquim Levy, que aplicou, deliberadamente, uma recessão, para que a demanda diminuísse e diminuísse a pressão dos preços, terminamos 2015 com fantasmagóricos 10,7% de inflação e um governo completamente emparedado pela Câmara de Deputados, cujo presidente, Eduardo Cunha, teria recebido a “tarefa” de fazer naufragar o governo petista, o que de fato aconteceu.
 
Quem não lembra a esperança depositada em Michel Temer, que hoje assessora o Mandrião, que, depois do impeachment, esse país melhoraria, destravando as pautas que “exigiam uma economia aberta e dinâmica, dirigida pelo mercado”? Quem não lembra da promessa de aumento da oferta de emprego (chegou-se a dizer 12 milhões de novos empregos), com a destruição da CLT e a “dinamização do mercado de trabalho”? Isso foi dito no final de 2016 e durante todo o ano de 2017, sendo aprovada no fim daquele ano. 
O movimento da Inflação foi oscilante, caindo em 2016 (6,3%) e 2017 (3,0%), mas voltando a se recompor em 2018 (3,8%), 2019 (4,3%) e 2020 (4,5%), chegando agora, em agosto de 2021, a 9,5%, isso considerando o IPCA, mas está muito claro que há um completo descontrole dos preços, principalmente dos alimentos e combustíveis. 
 
Não que o governo tenha “perdido a mão” da economia, pois na verdade nunca teve, já que desde janeiro de 2020, quando assumiu, não produziu nada que estimulasse a economia e simplesmente abandonou os investimentos públicos e deixou a gerência dos recursos hídricos para São Pedro e São José e o desastre está aí.
 
As polianas da economia, torcedoras mais do que analistas, tentam, a todo momento, acomodar o delírio de Bolsonaro e a incompetência de Guedes, aos “ditames do mercado”, ou seja, se a economia der um espirro, logo se anuncia a “retomada da economia”, para na semana seguinte, diante da realidade, faz-se nova análise, dessa vez mais negativa, mas isso dura poucas horas.
 
A pandemia desnudou o governo, que se mostrou mais do que incompetente, medíocre e, posso arriscar, delirante, pois o falastrão que dirige a economia parece biruta de aeroporto e, quando chamado a tomar alguma decisão, ele privatiza, vende, diminui a capacidade de investimento do setor público e dá de ombros para os milhões que foram expurgados da economia entre 2019 e 2021.
 
Mas é a fome que assusta. Não assusta a classe média, principalmente os servidores públicos que, ainda, tem uma certa estabilidade, embora com redução da renda, mas apavora os mais de 90 milhões que fazem parte da força de trabalho e estão na esfera do setor privado, pois quase 30 milhões estão desempregados, subempregados e desalentados, principalmente jovens, que estão sendo engolidos pela crise e provavelmente perderão a juventude, correndo atrás de qualquer tipo de trampo, ou seja, sua cidadania foi condenada graças a uma ausência do setor governamental. Que futuro terão esses jovens?
 
Durante a pandemia mais de 9 milhões de pessoas se somaram aos 10,3 milhões (2018) e chegamos ao escandaloso número de quase 20 milhões de pessoas passando fome nesse país, num vergonhoso retrocesso visto que em 2014, no odiado governo de Dilma, anunciamos ao mundo que tínhamos saído do Mapa da Fome, hoje esse Mapa é “invenção de comunista”.
 
Ocorre que segundo a ONU, um “antro comunista”, o BraZil tem 84,9 milhões de pessoas em “risco alimentar”, ou seja, além dos 20 milhões mergulhados na fome, temos mais 64,9 milhões em “insegurança alimentar” o que significa um pé na fome.
 
Pensem nisso quando estiverem vestindo a camisa da CBF e se fantasiem de “patriotas” ou coloquem aquelas bandeirinhas nos seus carros, a caminho das patéticas manifestações defendendo o governante que nos colocou nessa situação.
 
Mas...você já passou fome?
 

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