Erê Mirim

12/11/2021 10h35

 

CARTAS A UMA NEGRA

 

É com imensa alegria e orgulho que anuncio o surgimento de um feito histórico. Pela primeira vez na história do RN, quiçá do Brasil, crianças da Rede Pública conquistam espaço em um jornal de referência em nossa cidade. Mas antes de chegar ao fato, vamos falar um pouco do processo. 

Como muites sabem, sou professora na Rede Pública Municipal de Natal-RN. Mesmo com o primeiro decreto de isolamento em 2020, nossas aulas nunca foram interrompidas e seguimos de forma remota com muita dedicação. O ano de 2021 também começou com desafios. Diante de um contexto ainda pandêmico, funcionávamos com a turma em rodízio de três grupos, esfacelando um trabalho que deveria ser contínuo. 

Mesmo sem apoio e incentivos por parte da Prefeitura Municipal de Natal, ou da Secretaria Municipal de Educação, seguimos firmes de mãos dadas com a gestão da escola, que desde os primeiros lampejos de sonho, acreditou no nosso trabalho.

Iniciamos uma prática educativa alicerçada nas Leis nº 10639 e nº 11645, garantindo aos nossos educandes o direito ao conhecimento das culturas africanas, afro-brasileiras e indígenas, na Escola Municipal Almerinda Bezerra Furtado, localizada no bairro Guarapes, Zona Oeste de Natal. Foram meses de muita pesquisa, estudo e planejamento para, enfim, iniciar a execução de aulas em formato pluriversal. 

Rompendo com a lógica eurocêntrica do currículo, passamos a apresentar nomes de intelectuais negres e indígenas, bem como apresentamos suas obras e pensamentos. Nosso público-alvo foram meninos, meninas e menines negres, em sua maioria, que se identificaram com aquelas narrativas insurgentes e que despertavam sonhos e possibilidades. 

E assim, com o apadrinhamento do nosso querido editor Cefas Carvalho e do aval da excelentíssima Irandi Pinto, atual diretora do Jornal Potiguar Notícias, abriremos os trabalhos no mês da Consciência Negra com aquela que mudou nossas vidas e nos fez entender que podemos ser grandes, Doutora Carolina Maria de Jesus. Meus alunes conheceram sua história e suas obras e, além de despertar para questões políticas e sociais, viram nela uma possiblidade de futuro grandioso.

Pedi que cada criança escrevesse uma carta para Dona Carolina, inspirades na obra “Cartas a uma negra”, de Françoise Ega. Visivelmente emocionada em sala de aula, afirmei que de onde Carolina estivesse, leria todas as cartas e ficaria muito feliz. Foram escritos incríveis, nos quais se vê crianças que, mesmo vivendo em uma sociedade racista e burguesa, viram beleza naquela mulher preta e constaram a imensidão que é sua narrativa. Mesmo sendo escritores iniciantes, de uma turma do 5º ano, respeitamos seus textos e ideias originais, fazendo apenas as intervenções gramaticais.

Eu, de cá, agradeço aos Orixás por esta oportunidade de passar adiante um pouco da generosidade que Dona Carolina me concedeu. Agradeço também às intelectuais e pesquisadoras da grande Carolina Maria de Jesus, Hidália Fernandes, Verônica Souza e Bruna Cassiano, que todos os dias me ensinam mais sobre esta grande mulher e provam que a revolução se dará pela união de pessoas negras e pela partilha generosa de conhecimento.

Sem mais delongas, está oficialmente aberta a nova Coluna Erê Mirim, do Jornal Potiguar Notícias. Boa leitura!


 

CARTAS A UMA NEGRA

 

Querida Carolina,

 

Hoje eu aprendi um pouco sobre você. Eu amei seus livros. Você é muito babadeira como minha querida professora sempre diz. Sua escrita é maravilhosa e você é muito linda como sua filha. Você foi uma das melhores escritoras que eu já conheci na minha vida. Você é uma mulher trabalhadora, independente, linda, maravilhosa, não sei nem o que falar... Você me deixou de queixo caído. Independente de tudo você conseguiu chegar onde você está hoje. 

Eu achei você muito sincera. Eu acho que você foi no seu diário. Antes de eu te conhecer, eu pensava que você era médica, mas você é uma perfeita escritora babadeira e maravilhosa. Você teve uma linda filha que até hoje luta por você. Parabéns por tudo. 

 

Com amor, Maria Kethilly 

Olá, Doutora Carolina,

 

Hoje eu aprendi sobre você e sobre o que você fez no passado. Você também passou por tanta coisa para ser escritora: sofreu racismo no bairro dos ricos, morou numa favela, apareceu no jornal, trabalhou na casa de um dentista com sua mãe, estudou até o segundo ano e virou uma grande escritora com três filhos e mesmo sendo rica ainda ficou humilde e independente. Você mudou o mundo mesmo! Todo mundo fazendo preconceito com você, mas você ficou com a cabeça levantada e fazendo livros bons. 

 

Com alegria, Pedro Felipe 

 

Querida Carolina,

 

Eu fiquei muito impressionada ao conhecer sua história linda e maravilhosa. Eu te admiro muito por ser uma mulher linda e encantadora. Também gostei muito dos seus livros. São lindos. Você é uma mulher que lutou para mudar o mundo. 

 

Com amor, Ketylli.

Querida Carolina,

 

Olá. Eu me chamo Wandeson Gabriel e adorei suas histórias e queria dar os parabéns pelos livros e pelas suas conquistas aqui no mundo. Você merece cada vez mais e sua história nunca será esquecida.

 

Com muita alegria, Wandeson Gabriel

 

Querida Carolina,

 

Minha professora falou muita coisa sobre você e eu gostei muito da sua história. Eu entendi sua história e você me inspirou a nunca desistir dos meus sonhos. Sei que você é uma pessoa guerreira e você inspirou muitas pessoas e eu gostei muito. Minha professora até chorou de emoção. Eu sei o que você passou e é muito triste. 

Com amor, William

 

Oi Carolina Maria de Jesus,

 

Você é muito bonita e sua história é muito linda. Você é uma rainha. 

Com alegria, Raissa

 

Querida Carolina,

 

Você é linda e eu admiro você. Você é maravilhosa. Amei muito conhecer você. Você é muito linda. Você é infinita e independente. Eu gostei da sua história.  Você é muito gata. 

Com amor, Sara


 

Querida Carolina,

 

Hoje aprendi que a senhora foi uma mulher muito poderosa, inteligente, simpática e rica também. Eu fiquei de boca aberta com as histórias que a professora contou da senhora. Irei aprender mais sobre isso. Gostei muito das suas frases e do seu jeito de escrever. 

 

Com amor, Vitor Guilherme 

 

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).