Cláudia Fragoso

05/12/2021 09h09

 

O excesso de “wow”

Você já ouviu a expressão “positividade tóxica”? Imagine que você está passando por um problema real e que pessoas ao seu redor querem lhe ajudar... Vamos a um exemplo: imagine que está grávida e que sofreu um aborto espontâneo. Por não saber o que dizer ou por acreditar que isso irá lhe fazer bem, familiares e amigos soltam frases como “Veja pelo lado bom, se você engravidou, significa que pode engravidar novamente” ou “Pense que, se nascesse, talvez tivesse algum problema sério de saúde!”. Conhece gente assim? Que a qualquer obstáculo da vida, ela sempre vê “o lado positivo das coisas”?

Em um mundo encharcado na superficialidade, em que as palavras “gratidão” ou “gratiluz” são pronunciadas muitas vezes sem nenhum contexto e/ou sentimento, parece que ser superpositivo está em alta! Fico me perguntando o que está por trás desse comportamento. E me pego pensando na quantidade de crianças e adolescentes que às vezes mal sabem expressar o que sentem, quando resolvem finalmente, falar, são tolhidas pelo excesso de “wow”!

O que vale mais? Ter ao lado alguém que lhe “levanta para cima” e lhe faz enxergar o tempo inteiro, 24h por dia, como a vida é bela ou poder contar com uma pessoa que escuta seu choro até o fim sem falar nada? Será que estamos dispostos a ouvir o choro de quem amamos?

Ouvir o choro não é uma tarefa fácil! Mais fácil é dizer: procure um psicólogo! Só que o psicólogo em geral só está com o paciente 50 min, uma vez por semana! Você pode estar ao lado do seu amigo, namorada, filho, mãe o tempo todo! Mas sempre empurrar a missão para o outro é mais confortável; fazê-lo olhar a beleza de tudo é menos sofrido (para você!).

E antes que ache que estou aqui trazendo uma visão muito realista, fria e talvez pessimista da vida, já lhe adianto: SIM, trago aqui uma visão REAL dela mesmo! Simplesmente porque estou cansada da falta de interesse (minha e do resto do mundo todinho) no outro! Fugimos do sofrimento, da dor, do choro, da tristeza! E muitas vezes o que mais importa, o que mais necessitamos é ABRAÇAR A DOR! Sim, não estou ficando doida, pelo contrário, cada vez mais sã! Abraçar a dor é absolutamente imprescindível para que possamos costurar uma vida com mais sentido! Somente após o abraço, podemos deixá-la ir e então, finalmente, ficamos em paz.

Enquanto estivermos preocupados em nos esconder do sofrimento (nosso e do outro), mais ele vai ficando impregnado dentro de nós, mais ele ficará lá, instalado no cérebro e refletindo em inúmeras ações cotidianas sem nos darmos conta do quão podre ele está...E quando tivermos coragem de entrar em contato com ele, pode ser tarde demais!

Por uma vida com menos “wow” e mais choro. Por falar em choro, se após ler esse texto, entrou em contato com algumas feridas e sentiu vontade de chorar: CHORE! 


*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).