Fábio de Oliveira

06/12/2021 09h32

Ativando as conexões ancestrais

 

As conexões com minhas raízes e minha ancestralidade aconteceram de forma gradual, sem seguir a moda do momento e sem intervenções. É um caminho que requer toda uma desconstrução interna, diálogos com os nossos e apagamento das ideologias colonizadoras, que são constantemente empurradas em nossas mentes. Não há como vedar os olhos e fazer de conta que não estamos vivendo em um mundo cada vez mais caótico. Mas o que você tem feito por você, para desconfigurar essa forma hostil de coexistir?

Poucas pessoas próximas a mim sabem, mas o audiovisual foi um dos principais motivos que levou-me a questionamentos, respostas e libertações, que foram fundamentais nesse processo de tornar-me o que sou hoje e que não parou por aqui, pois é uma constante. Encontros, diálogos e vivências com parentes foram proporcionados nessas jornadas de estudos e reconhecimentos dentro e fora da academia.

Foi libertador sair de um modelo de vida que, durante aproximadamente dez anos, drenava-me mais energia e saúde do que gerava uma qualidade de vida. Estava adoecendo! Não fazia mais sentido essa forma de levar a vida. Se eu não tivesse arriscado tudo para permitir-me viver outras perspectivas, provavelmente, eu não estaria aqui escrevendo essa crônica.

Em distintos cenários – coletivos, comunidades e diálogos com familiares –, foi possível enxergar e fortalecer alguns processos que estavam enraizados em minha existência, porém, escondidos pelo modo de vida colonizada em que vivemos, que acaba sendo um fator que invisibiliza nossas origens e ancestralidades. Afinal, o mundo colonizador vive em função da razão e as nossas subjetividades são uma “perda de tempo”.

Através das janelas dos transportes, meu olhar sempre foi atento às paisagens nas viagens pelas estradas do RN. Em algumas comunidades indígenas que conheci, pude compreender as distintas formas de coexistir e as relações com a natureza – através das toadas e histórias dos parentes. Essas e outras vivências projetam em minha mente memórias e lembranças das quais não me recordo de ter vivenciado.

   É válido, fortalecedor e de grande importância dialogar de forma coletiva com os nossos. O autoconhecimento, reflexões, transformações e descolonizações dentro e fora de nós não acontecem de forma individual e repentinamente; são processos em que o tempo é peculiar a cada um de nós.

Permitir-se a outras perspectivas de mundo, é considerar as diversas formas de existências e interações com o mundo. Acredito que, na medida em que descolonizamos nossas mentes, despertamos para outras possibilidades e cosmopercepções.

  Quando você estará pronto para romper com essa estrutura colonizada dentro de você?

 

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).