Fábio de Oliveira

20/12/2021 10h37

 

O status quo da cultura potiguar

Desde o início da minha formação no curso de Audiovisual, pela Universidade Federal, venho desempenhando alguns trabalhos que surgem nessa área, de forma autônoma. Mas confesso a vocês, e isso não é novidade para ninguém, conseguir manter-se da arte e cultura em nosso Estado tem sido árduo e cansativo. As poucas possibilidades que aparecem em seleções de editais são ocupadas, mais uma vez, pela branquitude cultural potiguar. É como você ir pegar uma fatia do bolo na festa e não ter mais nada, porque alguém repetiu!

Apesar das ilusões profissionais, eu não esperei ter um emprego garantido. Depois de posar para foto da formatura, há dois anos, eu tinha total ciência de que daquele momento em diante não haveria mais aquele trocado da bolsa ou do estágio. Essa remuneração garantida, fez-me muitas vezes pensar em estender meu tempo no curso para conseguir pagar minhas contas, já que para continuar recebendo, eu teria que ter vínculo com a academia.

Periodicamente, ouço que trabalhos nas áreas de jornalismo, radialismo, audiovisual ou qualquer outro ligado à mídia eram mais fáceis de conseguir pelas regiões Sul e Sudeste. Empregos e boas remunerações só acontecem por lá, pois aqui pelo RN não existem demandas. Mas em momento alguém me veio à mente arrumar minhas malas para migrar para outros Estados. Tenho me virado com serviços avulsos nestes últimos anos, e percebo que o mercado não é tão fechado como comentam. Além disto, tenho buscado os editais que são anunciados em doses hemopáticas, com baixos orçamentos, que não dão para custear a produção de uma obra como deveria. Também tenho acompanhado o lançamento dos editais municipais e estaduais, e tenho percebido alguns fatores que não são novidades.

O grande desafio é que os poucos editais lançados são contemplados, majoritariamente, pelos mesmos coletivos compostos pela elite potiguar. As bolhas artísticas e culturais tomaram uma forma de tal jeito, que fica visível a falta de um acesso democrático de grupos acêntricos em cada resultado destes editais. 

Outro fator percebido nos lançamentos das obras que são contempladas com estes recursos, é que são produções sobre contextos que não pertencem aos idealizadores brancos. É muito fácil chegar a uma comunidade, periférica ou indígena, e filmar sobre ela e não importar-se com os diversos aspectos que as colocam em uma condição de invisibilidade e subalternizada e ainda faturar com isso.

Há demandas em nosso Estado, apenas está mal distribuída e centralizada nas mãos de grupos elitistas. E são exatamente esses grupos que realizam consultorias para os órgãos que publicam estes editais. Nesta perspectiva, ninguém vai querer dividir o pedestal para ceder e condicionar acessos aos nossos povos, porque vão ter sempre garantido recursos oriundos destes editais.

É necessário planejar e executar políticas públicas por meio de um recorte étnico-racial, de maneira que nossos povos tenham acessos, de forma democrática, aos recursos financeiros para fomentar projetos artísticos e culturais. A partir do momento em que tensionamos esses fatores, começamos a romper com a lógica atual do status quo cultural da nossa cidade. Sendo assim, as fatias do bolo serão distribuídas de forma justa.


 


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