Eliade Pimentel

10/01/2022 10h41
 
Amor, pão e diversão
 
Colocar em prática uma velha receita de bolo ou de qualquer outra comida gostosa para mim é uma diversão. Hoje em dia, nem preciso ter um livro clássico em casa, basta ter acesso à internet para reencontrar velhas receitas da infância ou da adolescência. Para achar a receita certa, coloco uma referência, confiro as proporções e parto para a execução. Geralmente tem dado certo. Ontem resgatei a memória afetiva de um clássico bolo de maçã com canela e o fiz em homenagem a minha irmã Eliete, que me apresentou esta receita “a long time ago”. 
 
Não lembro direito qual foi a ocasião em que ela me mostrou uma revista de decoração em que havia uma reportagem com a atriz Cinthya Raquel que, entre outros papéis na TV Brasileira, fez a Biba de O Castelo Rá-tim-bum.  Aproveitando que ganhei muita matéria-prima, fiz um bolo com 4 maçãs, 3 ovos caipiras, 300 gramas de açúcar, 260 gramas de farinha de trigo, 4 colheres sopa de manteiga de garrafa, uns 50g de uva-passas, um toque de canela em pó e 1 colher sopa de fermento. Bati os ovos com o açúcar, acrescentei farinha de trigo e mexi com a colher de pau. Acrescentei a maçã picada com as passas e a manteiga. Misturei tudo, coloquei em forma untada e enfarinhada, forno alto, a 200 graus. Cerca de 30 minutos, no máximo. 
 
Ah, para fazer aquela crostinha, joguei açúcar com canela por cima. Ficou maravilhoso, meu irmão comeu e levou um pedaço, um casal também aprovou, eu mesma amei a experiência de resgatar uma receita tão basiquinha. Foi dessa que surgiu o meu bolo com aveia e canela, em que uso outra gordura para manter o padrão de não ter lactose. Sentir o gostinho residual da manteiga produzida na cidade de Cruzeta, no Seridó, mexeu com a memória afetiva do meu companheiro, que fez questão de saber a procedência, devido à qualidade já comprovada pelo gosto, do produto típico do nosso estado, que eu havia comprado num empório pertinho de casa, iniciativa de um amigo. 
 
As coisas hoje em estão muito modernas, tão diferentes, mas eu incentivo qualquer pessoa de que é possível surpreender usando fórmulas simples. Sem precisar tentar reinventar a roda. Outro dia, de um pote de nata comprada a 20 reais o quilo eu fiz pastas saborizadas com alho, alho e cebolinha e azeitonas verdes. Aquele azedinho de fundo da nata foi o pulo do gato, todo mundo que experimentou comentou a respeito.  A caminho do Oeste Potiguar, tem uma cidade chamada Santa Maria e é onde eu suponho que comece a rota das queijeiras no Rio Grande do Norte. São tão tradicionais que hoje em dia temos até política pública para proteger e resguardar seu modo original de fazer queijos.  
 
Lugar muito fofo, de beira de estrada, que vende queijos e nata de produção própria. Esse pote andou pelas estradas, indo e vindo, porque eu o esqueci no carro da repartição. Mas, quis o destino (adoro essa expressão), que a nata funcionasse muito bem (eu pensei, ela não é meio azedinha mesmo?). Bati o quilão da nata na minha batedeira planetária e já começou a fluir bem o negócio. Ficou bem aerada, como um chantilly. Tive a ideia de saborizar meu creminho e ficou um luxo. Não quis reinventar a roda, pois já temos o hábito de passar nata no pão, eu só dei um plus no uso de um produto regional muito em conta, e com o sabor extra de ter sido adquirido direto da fonte. 
 
Faça essa experiência. Não sabe as proporções nem os ingredientes de uma receita que ativa a sua memória afetiva? Dê um jeitinho de pesquisar e rememore sua infância e sua juventude com histórias de amor, pão e diversão.  Hum, delícia!

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