Daniel Costa

15/02/2022 10h11
 
PUTIN, TRUMP E A TERCEIRA GUERRA
 
NÃO ESTAVA ENGANADO? Vejam o  artigo que publiquei no  Potiguar Notícias, no dia 11 de novembro de 2016, há mais de 5 anos, portanto. O quadro voltou.
 
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Para quem vive no topo da pirâmide do mundo ocidental, é meio nonsense ouvir falar nos dias de hoje em guerras, conflitos armados e essa coisa toda. Talvez por isso tenha causado tanto impacto a notícia estampada num jornal português, que dizia em letras maiúsculas: O VELHO MUNDO NUNCA ESTEVE TÃO PERTO DE UMA TERCEIRA GUERRA. 
Os jornais quase sempre exageram nas tintas. Mas, há aproximadamente dois anos, a  chanceler Ângela Merkel já dizia, em tom de alerta, que a Europa jamais passou tanto tempo sem uma guerra. E 17 economistas ganhadores de Prêmio Nobel, na mesma época, também vaticinaram, num encontro em Lindau, na Alemanha, que desde a queda do Muro de Berlim, o perigo de um confronto na Europa nunca foi tão grande. 
Como sempre acontece no capitalismo globalizado, o negócio envolve a disputa por ampliação de mercado. E assim como no período pós-Segunda Guerra, a tensão abarca novamente Estados Unidos e Rússia (Estado pós-soviético), só que agora tem relação com o bloco econômico formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul, os chamados BRIC's, em que Rússia e China figuram como os principais atores, jogando novas cartas na economia mundial, e atrapalhando a atuação dos EUA, que perderam espaço depois da crise de 2008. 
Nessa briga por mais mercado, a intervenção russa na Ucrânia ganha destaque, numa contenda que envolve a exploração e a distribuição de gás natural. Algo que interfere na ampliação do comércio da Rússia em direção à Europa Ocidental, e que interessa diretamente aos  EUA, já que o avanço russo rumo ao mercado europeu mexe diretamente no espaço de atuação econômica daquele país. Daí a intromissão americana no conflito via OTAN. 
Já a outra perna do embate se desenrola na Síria, onde os dois países salivam acusações mútuas numa disputa econômica e geoestratégica envolvendo, dentre outras coisas, o fornecimento de armamentos e a ocupação do oriente Médio. A denúncia dos EUA de que a Rússia comete crimes de guerra, e a decisão de Putin de ordenar que caças russos derrubem aviões norte-americanos que forneçam ao Estado Islâmico equipamentos de guerra, dão o tom do imbróglio. 
Dentro de todo esse panorama, surgem acontecimentos pontuais que deixam entrever que o negócio não é mesmo obra de jornais sensacionalistas. Fatos como a quebra do acordo bilateral entre americanos e russos, que tratava da conversão do plutônio militar em combustível nuclear para uso pacífico; a colocação de bases navais pelos ianques na fronteira da Noruega; e o deslocamento de  tropas dentro da própria Rússia são provas inequívocas desse cenário belicoso.  
 Pegue tudo isso e coloque no saco as notícias que circulam sobre a preparação de abrigos antinucleares em Moscou; a prática de exercícios de defesa civil visando evacuações de edifícios; e as frases cuspidas nos últimos meses por Mikhail Gorbachev ("O mundo flerta perigosamente com a zona vermelha"); e pelo chefe da diplomacia alemã Frank Walter Steinmeier ("O perigo de um confronto militar é considerável"), e aí o cenário se configura realmente temerário, só mesmo amenizado pela simpatia que Vladimir Putin nutre pelo novo presidente norte-americano Donald Trump. Mas cabe perguntar: alguém confia nesses dois?  

 


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