Fábio de Oliveira

21/02/2022 11h11

 

Inconsistências políticas e a democracia utópica

Quando se pensa em política no nosso país, a maioria das pessoas acredita que para exercê-la é preciso ocupar um cargo na Câmara, no Senado, ou na Prefeitura. Então, é aí que elas se enganam, pois uma conduta politizada independe dessas ocupações. Há pessoas que são diariamente mais engajadas politicamente do que seus representantes que não cumprem o mínimo de suas atribuições. Mas o discurso de que política não se discute ainda é um ditado a ser estigmatizado.

A política não discutida fomentada por esse velho ditado, que está entranhado no imaginário popular, é um dos fatores responsáveis por encontrarmo-nos nesse patamar de analfabetismo político. Todo esse diálogo parece limitar-se a dois únicos pontos e um só lugar: direita versus esquerda e no voto. E nisso, os mais sensatos percebem uma dualidade nesse conflito: “sim” ou “não”; “certo” ou “errado”. E vai para além dessa linha tênue, radicalmente imposta.

Um local bem típico que podemos acompanhar tais conflitos é nas redes sociais, inclusive, no Facebook. Percebemos debates e mais debates acerca de vários acontecimentos e até mesmo notícias falsas alimentadas pelos rasos e desinformados discursos, que acabam em trocas de ofensas; uma competição sobre quem vai ser o último a falar. Convencer, forçadamente, as pessoas do outro lado da tela nunca será o meio mais apropriado de um diálogo politicamente compreensível. 

Pessoalmente, acredito que a maioria de nós já presenciou circunstâncias de uma política verbalizada baseada no achismo. Na rua, na mesa de bar, no jantar em família e tantos outros ambientes, que direcionam para xingamentos, ameaças e, na pior das hipóteses, conduzem à violência física entre os “cientistas políticos”. Diálogos e escolhas por vias democráticas não utilizam a base de opiniões pessoais e ataques para exercer sua instável afirmação.

O debate saudável é aquele que propõe um denominador comum, com objetivo, digamos, no mínimo partilhado: o desenvolvimento da sociedade e o bem coletivo. A briga levada para o lado pessoal interdita a construção e gera mais divergência do que a mínima convergência esperada. A construção pelo senso comum ou aquele “fulano disse que...” não somam. É preciso argumentos sustentáveis que provoquem reflexões e um sentindo positivo em comum a todes, por meio da cidadania, que está relacionada diretamente com a política.

É necessário sair, urgentemente, da condição de achar, generalizar e tomar algo como verdade e superior, de modo inconsequente. O que constatamos nas rodas de debates e as confusões que vêm logo após estas, é a opinião sendo utilizada como meio argumentativo. Esses pontos de vista, sem estruturas ideológicas, desestruturam a praticabilidade de um pensamento político e democrático. 

Crescemos com a ideia de que futebol, religião e política não se discutem. Mas já estamos muito atrasados no rompimento desse ditado; a arrogância está presente em ambos os espectros políticos - direita e esquerda.. Precisamos enxergar para além dessa dualidade e compreender que política não se faz apenas na urna; faz-se muito mais – e de forma concreta – no nosso cotidiano!

 

 

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