Evandro Borges

08/04/2022 09h30

 

Uma História das Rocas

É o título do livro escrito por Ciro Pedroza, comunicador social, doutor em linguística aplicada, e lançado pela editora Sebo Vermelho. Contando já com dois momentos de autógrafos. Um no América no bar Themis (Temístocles) e o outro no Mercado das Rocas. Compareci ao das Rocas na presença de familiares e amigos e na última terça-feira na apresentação da primeira edição do Jornal do Potiguar Notícias com a participação de uma rede de emissoras parceiras, recebia a franquia da presença para entrevistar o autor, com uma grande aceitação pela sua eloquência e comunicador dos mais credenciados, comprovada pelos inúmeros comentários.  

O livro está à venda em várias localidades, uma testemunhei na Cooperativa Cultural, localizada no Centro de Convivência da UFRN, e com a primeira tiragem já se esgotando, tamanha a procura pelos aficcionados pelas Rocas e pela intelectualidade. A capa é belíssima de Alexandre Oliveira (Argumento) sobre releitura em grafite de Silvano Quazza para foto de Hart Preston (Revista LIFE, 1941). O investimento para o leitor consumidor é um preço considerado justo na importância de cinquenta reais.

A apresentação/prefácio é de Manoel Fernandes de Souza Neto, livre docente em Geografia Humana da Universidade de São Paulo, fazendo uma síntese das urbanizações praticada ainda no período colonial nas falhas geográficas, nas entradas dos Rios, favorecendo a penetração humana, nos baixios e subidas,  Natal seriam uma delas, e principalmente as Rocas uma prova desta análise e nas palavras de Ciro Pedroza que retrata o lugar, suas dunas, areias, mangues, e alagados, no corolário de sua gente e cultura. 

Ciro Pedroza afirma que a leitura do livro “Cabra das Rocas” de Homero Homem (1924 a 1991) foi sua inspiração. Nasceu “Xaria” (Cidade Alta) e em tenra idade foi morar nas Rocas (Canguleiro) com seus pais no alto da Rua São Jorge. Inicia situando as Rocas, fala sobre as Rocas de frente e de traz, dos bairros irmãos, Ribeira e Santos Reis, com realização de pesquisa interessante, pois informa que as ‘Rocas nasceu de papel passado no dia 30 de setembro de 1947, por um ato do prefeito Silvio Pizza Pedrosa (1918 – 1998)’ promulgado através da Lei n. 251.

As Rocas era um lugar onde o povo tinha para morar. Um bairro iniciado por pescadores, em seguida povoado pelos trabalhadores construtores do porto da Ribeira, e posteriormente recebeu migrantes de toda parte em especial dos que vinham fugindo das estiagens do fenômeno da seca. As Rocas ladeada pelo mar, pelo rio, pelos mangues, dunas, areias e muita lama, local insalubre, de casas de palha, um bairro operário e de muita pobreza.

Diz sobre a mesa simples, a base de pescados, dos que sobravam das vendas, e especial os cangulos, com pirão e arroz branco, que se retrataram nos Restaurantes de Casa de Mãe e da Comadre. Fala da Carne de Sol do Lira e de Marinho no Areal, sempre visitados por autoridades que se encontrava em passagem por Natal, mas, pontuando a simplicidade e a cortesia.

Quando adolescente na saída para as aulas, a popularidade do programa Patrulha da Cidade era forte, sempre trazendo notícias dos moradores das Rocas, e a simbiose da convivência no bairro de forma pacífica dos malandros e trabalhadores. Uma convivência respeitosa e de certa forma solidária pela dureza da vida enfrentada pelos moradores, em boa parte empregados no próprio bairro, na indústria e no comércio ou na vizinha Ribeira.

Falou sobre o Presidente João Café Filho, Canguleiro, advogado do povo, contrariando a elite potiguar. Durante seu pequeno tempo de governo substituindo Getúlio Vargas, no bairro, construiu o Hospital dos Pescadores, a Vila dos Ferroviários, um frigorifico para abrigar o pescado no Canto do Mangue, O IPASE e outras repartições da Previdência Social e um colégio estadual, portanto, obras significativas para o bairro de sua origem.

Disse da importância das campanhas eleitorais nas Rocas. Realizou uma exposição dos líricos e loucos, situando a Embaixatriz do Brasil, Severina, o Conde, proprietário do mundo, e Zé Areia com suas histórias, desde a oportunidade breve de Rei Momo e seu falecimento em 1972 com 71 anos, com um féretro acompanhado pela cidadania e intelectuais, parando o cortejo, principalmente nos bares e com muito discurso em sua homenagem.

Disse do samba e do candomblé, da batida dos tambores nas noites. As duas maiores Escolas de Sambas, Malandros e Balanço nasceram em terreiros de umbandas. Dos músicos e cantores. Deu importância a Glorinha Oliveira e tantos outros, e aludiu ainda a Debinha e Valéria Oliveira. Deu ênfase como um marco a educação as Escolas Irmã Vitória, o Padre Monte, as aulas particulares nas casas e a importância do legado de Djalma Maranhão com “De pé no chão, também se aprende a ler”, muito adequado aos condicionantes sociais e econômicos da população das Rocas.

O futebol, igualmente retratou o seu lugar como agregador e referência para as Rocas. Os campos de futebol, da Pereira Simões, no Tapete Verde para os lados da Rua Miramar, do Palmeiras e  do Racing, do Nacional, e dos atletas afamados como Ribamar, Otávio, Piaba, Coco, Juca, o baixinho Erivan, Lula soberana, que envergou a camisa do Fluminense e do Internacional e da Seleção Brasileira.

Ao final narrou várias estórias e lendas do bairro, deixando com muita criatividade, um espaço para cada leitor acrescentar uma história que conhece. É um livro como diz no jargão, “se ler em uma assentada só”, tamanha a gostosura da leitura. Vale fazer a leitura. É enriquecedor. E no domingo, dia 10 de abril de 2022, no Parque das Dunas, Ciro Pedroza na Feira de Livros estará às 14h concedendo mais autógrafos para os leitores. 

 


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