Emanuela Sousa

08/04/2022 11h46
 
Enferrujou 
 
Estava pensando em como tudo mudou. 
Daqui da mesa dessa padaria eu analiso como aos poucos, as coisas  voltam ao seu devido lugar depois de um estranho e caótico ano de 2020 e 2021.
 
Será que a tristeza foi embora de nós?
 
Se sim, agora seria a hora de tirarmos o véu que a tristeza e o luto nos colocou, e começarmos à enxergar algumas sequelas que esta pandemia nos deixou. 
 
É possível enxergar o fim da covid, mas não há como ignorar que ficaram as consequências em nossa sociedade. E uma boa parte dela são invisíveis. 
Com frequência, questiono-me quem eu sou depois desse furacão e o que restou de uma versão minha antes de 2020. 
 
Ficamos só o caco. Tantas perdas significativas, tantas pessoas queridas perdemos, outros perderam seus empregos, suas rotinas... Suas vidas...
 
Estagnamos. Parece que em algum momento não saímos do lugar. Ficamos tão acomodados com a rotina de ficar em quarentena, em nosso lar, que sair de casa se tornou um sacrifício. 
 
Imagino como deve estar sendo difícil para alguns ter que voltar à vida ativa, pegar condução lotada todos os dias, interagir... 
 
Enferrujamos. Admita. Parece que envelhecemos dez anos, o corpo deu sinais de cansaço e sedentarismo. Não sabemos mais como é flertar, paquerar. Sair para um "date" depois da quarentena, hoje virou prova de amor. 
 
Se arrumar, vestir uma roupa legal e ir a um teatro com amigos, cinema ou em outros eventos, para muitos ainda  está sendo um desafio. Enquanto que para alguns está sendo motivos de fogos de artifício voltar à vida social, existem os que estão precisando daquele empurrãozinho, sair de sua zona de conforto e reencontrar seu lugar na sociedade. 
 
Convenhamos: está sendo tudo tão estranho, não é mesmo? Parece que perdemos um pouco de nossa espontaneidade, sair pelas ruas sem máscara ainda causa estranheza. 
 
Tenho a leve impressão que demoraremos muito para nos reconstruir, sair do enferrujamento e se adaptar às experiências de vida. 
 
Mas devagar, e com um empurrãozinho, a gente descobre novamente o sabor de viver. Acha graça nas coisas até finalmente entender que a vida está aí.
 Encontros ou dates, festas na casa de amigos, abraços e afetos. A vida está aí para ser vivida. 
 
Um dia, quem sabe, iremos dizer (rindo) que 2020 não passou de um delírio coletivo.

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